Um passeio pela beira do Tâmega

15 Janeiro | 2016 | Goodyear

As paisagens do Norte em volta do rio Tâmega desvendam um país agreste, montesinho e verde, um presente para o visitante

É muito difícil escolher o rio mais belo ou que mais paga a pena ser visitado e percorrido em Portugal. De norte a sul as paisagens são diversas e convidam à exploração, mas há um recanto que não aparece entre os mais conhecidos e, porém, justifica um deslocamento de fim de semana apenas  para ir descobrir 90 quilómetros pelo rio que nos reconciliam com o passado e a beleza que aquele atrás de si deixou.

É no Tâmega que achamos retalhos daquele Portugal montesinho e secular cujo silêncio envolve o mundo em redor. Os pinhais escuros e a sua sombra na água marcam um trajeto sinuoso e obrigatoriamente vagaroso, quase adormentado, que nos leva de Padronelo a Ribeira de Pena, de sul a norte, do quotidiano à magia de um fim de semana inesquecível.

Pela autoestrada A4-IP4 chegamos do Porto e entramos em Padronelo. Lá, à esquerda, sulcamos cerca de 4 quilómetros de EN 15 até chegarmos a Amarante. Outra opção é abandonar a autoestrada já em Penafiel e entrar do norte em Amarante. É terra de românico tudo em volta, e as aldeias do caminho testemunham-no com a beleza de pedra das suas igrejas taciturnas.

Depois, o caminho vira íngreme e desce de Borba de Godim até o vale do Tâmega, onde espera por nós Amarante. Em Borba podemos, ainda, continuar pelos caminhos que levam até Freixo de Baixo, Mancelos e Telões, onde também o românico deixou num tempo passado a sua pegada. Já em Amarante cai por cima de nós o peso todo da sua história: o rasto de São Gonçalo, que deu visibilidade e importância à velha povoação e que construiu a primeira das duas pontes, sucessivas, que levaram o seu nome; e também o eco da defesa da ponte contra os franceses no tempo de Napoleão. Foi naquela altura que a vila ganhou o colar da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito que o seu brasão ainda reflete. Este episódio explica o estilo moderno de parte da vila, uma vez que o exército invasor pegara fogo em quase todas as casas do lugar.

Hoje é uma cidade de becos e ruas estreitas, sinuosas como as serras de Marão e Aboboreira em volta, fendida pelo Tâmega que parece murmurar velhos segredos. As varandas coloreadas alegram a vista enquanto procuramos o museu do insigne pintor do cubismo Amadeo de Souza-Cardoso, filho destacado de Amarante. Na já mencionada ponte podemos pousar o olhar sobre o rio e depois sobre o mosteiro do XVI, homónimo, onde o santo ainda hoje é venerado como orago da cidade.  Se estivermos com fome, uma visita a O Almirante pode remediar a situação, uma excelente mariscaria com pratos de carne e um preço muito tentador, situada no Largo do Conselheiro António Candido.

Amatante - Quilometrosquecontam

Porém, podemos esperar até a seguinte parte da rota para matar a fome. Pela 210 até Celorico de Basto, a estrada abre-se caminho como o rio ao lado do caminho de ferro até chegar às casas graníticas do lugar. Em Aldeia Nova encontraremos um cabrito assado realmente ímpar.

Continuamos pelo íngreme vale do Tâmega até Molares, e virando à direita continuamos para Mondim de Basto pela estrada 304. Aqui esteve antigamente, dizem, Cinínia, a cidade da guerreira tribo dos tamecanos que enfrentou as tropas do cônsul Décio Júnio Bruto “Galaico”. As pontes romanas ficaram como testemunha silenciosa daquela época, e a visita obrigada inclui a capela de Nossa Senhora da Graça, exatamente onde há muitos anos se erguia Cinínia na lenda. Se regressarmos a Molares, e continuarmos para Arco de Baúlhe, atravessando uma paisagem incomparável de aldeias detidas no tempo, chegaremos a Ribeira de Pena. Vale a pena terminar aqui a rota com uma visão sem igual: todo o vale do Tâmega à nossa direita , e também o do Louredo na esquerda. Bosques, aldeias, névoa e granito: o melhor resumo deste recanto desconhecido do nosso país.

Good Year Kilometros que cuentan