Atrás das pegadas de Saramago

7 Abril | 2016 | Goodyear

Descobrimos a aldeia natal do nosso Nobel e seguimos o seu rasto até a sua morada mais desconhecida em Lisboa

A denominada de aldeia mais portuguesa do Ribatejo espreita o visitante na beira da N365 e do rio que parece ainda perguntar para onde é que foram as pegadas do campeão das nossas letras: José Saramago. Muito pouco tempo morou cá o autor do Ensaio sobre a cegueira, pois com dois anos já a família se translada até a Lisboa onde o escritor medra e vira o homem que deixaria um rasto indelével na literatura portuguesa.

O nome do lugar perde-se no tempo, mas parece beber da expressão árabe para caminho estreito “zannaca”. Esta origem testemunha uma antiguidade da povoação que se remonta ao tempo da presença muçulmana na zona, crescendo sob o governo de D. Sancho II. A época de esplendor da freguesia está no século XVI, que mudou para sempre o rosto do lugar: a Santa Casa da Misericórdia e outros edifícios nobres enfeitaram a paisagem regional enquanto a pecuária moldava o horizonte com campos de pastagem e marcava até hoje a economia local.

Aldeia Azinhaga - Quilometrosquecontam

Atualmente Azinhaga é uma freguesia onde uma delegação da Fundação do escritor mantém a lembrança da passagem por cá do homem e do mito, e no Largo da Praça podemos conhecer pequenas peças da vida do escritor: a cama dos avós onde se refugiavam das longas e frias noites que anos depois ele descreveria em As pequenas memórias ou até mesmo a sua certidão de nascimento.

Destacam-se na aldeia restos de um rico património histórico e físico, não apenas literário, como a Igreja Matriz da Nossa Senhora da Conceição e a Quinta da Broa, uma das mais antigas coudelarias a funcionar ainda no país. A Quinta é uma enorme casa branca ornada com sobriedade que já foi propriedade dos condes da Ribeira Grande. Perto da povoação, na Capela de São João Baptista da Ventosa, o visitante pode admirar a reconstrução da antiga igreja original que o terrível terramoto de 1755 derrubou. Como curiosidade muito surpreendente, esta capela dependia do Bispo de Roma em vez do Bispo da Diocese.

Quanto à gastronomia, não se deve abandonar Azinhaga sem experimentar a caldeirada ou sopa de feijão verde ou as enguias no esperto, tesouro arrancado do próprio ventre do Tejo.

Tejo - Quilometrosquecontam

Mas não é apenas em Azinhaga que devemos procurar os passos menos conhecidos de José Saramago. Além da Fundação em Alfama, é possível mergulhar nos tempos menos conhecidos, e se calhar mais interessantes, da vida do Nóbel muito perto de lá, na Madragoa. A Casa Museu Isabel e José, um terceiro andar na rua da Esperança, foi a morada do Nobel durante dezasseis anos, entre 1970 e 1986, quando convivia com Isabel da Nóbrega. Foram estes anos convulsos em que dirigiu o Diário de Notícias e escreveu algumas das suas melhores obras como O ano da morte de Ricardo Reis. Aqui pode o visitante alugar a casa para passar a noite e dormir na mesma cama -para quem quiser acreditar este último facto- onde Saramago descansou cada noite durante dezasseis anos e conhecer também os estantes ainda cheios de livros que inspirarom a imaginação e a tinteiro de um escritor sem imitação possível.

Good Year Kilometros que cuentan