Baixo Alentejo: onde é sempre primavera

18 Fevereiro | 2019 | Goodyear

Menos agreste que no verão, o Alentejo na primavera, que já está a apenas um mês, é uma delícia com as suas planícies com as culturas prontas a germinar. Apresentamos-lhe uma proposta de viagem, um circuito diferente. Esperamos que goste.

No Baixo Alentejo o horizonte não tem fim. Cor, Sol, temperaturas agradáveis – pelo menos na maioria do ano – compõem o ambiente que se sente. O ritmo das estações faz-se sentir. Afinal, os campos fazem questão de nos passar essa mensagem. Por vezes lavradas, por vezes verdes, por vezes em tons de pastel, a paisagem vai-se alterando ao sabor das estações.

A produção é variada: cortiça, azeitona, trigo, uvas. Bovinos, caprinos e suínos. Além dos animais de criação, há também espécies cinegéticas que vagueiam pelos montes. Javalis, coelhos, lebres, perdiz. Cães de caça acompanham os seus donos na época determinada por lei. Para proteger os rebanhos dos animais selvagens, rafeiros alentejanos patrulham os campos.

A gastronomia é património da humanidade. Na mesa não pode faltar o pão. As ervas aromáticas dão sabor aos pratos típicos. Sopas, migas, ensopadas, açordas, carne, peixe, queijos, presunto são apenas algumas alternativas. E para acompanhar: vinho alentejano.

O azul da paisagem

As casas são caiadas e debruadas a azul. Paz, recolhimento, imensidão são apenas alguns dos sentimentos que nos transmite esta região.

Além da paisagem e da gastronomia, não nos podemos esquecer do milenar património histórico, cultural e religioso. E ainda, museus e igrejas. No conjunto, contam-nos a História da região com as múltiplas influências culturais dos povos que por aqui passaram ao longo dos tempos.

A capital desta sub-região natural, composta por 18 concelhos, é Beja. A região faz fronteira a norte com o Alto Alentejo, no extremo noroeste com a Estremadura, a Oeste com o Oceano Atlântico, a Sul Com o Algarve e a Este, passando o Guadiana, com Espanha.

Para quem ainda considera que o Alentejo é um deserto, convém lembrar que parte da região é banhada pelo Oceano https://quilometrosquecontam.com/costa-alentejana-inverno/.

Alcácer do Sal

A apenas uma hora de Lisboa, fica Alcácer do Sal. Junto ao rio Sado, tem uma beleza própria e cativante. A cidade desce pela encosta desde o Castelo, recuperado e transformado em Pousada. Pode passar um fim-de-semana no local, mas pode também ser o ponto de partida para a rota que lhe propomos esta semana.

É uma das mais antigas da Península Ibérica. Terão sido os fenícios os primeiros a instalar-se por aqui e a transformar o local num ponto de escala no comércio, cerca de 1000 anos antes de Cristo. Atualmente, o castelo foi transformado em Pousada, perfeitamente integrada nas muralhas do edifício histórico. A vista… É de cortar a respiração.

A passagem pela cidade tem de incluir uma visita à cripta arqueológica que se encontra no subsolo de um castelo, uma passeio pelo cais palafítico da Carrasqueira e, eventualmente, um momento de pesca ou um piquenique. Visite ainda o Convento e Igreja de Nossa Senhora de Aracoelli.

Um fim de semana em Alcácer do Sal pode servir de justificação para uma série de passeios pela região de Setúbal e Península de Tróia. Mas, nesta rota, siga-nos para sul. Para Grândola.

Grândola

Grândola é daqueles locais que tem de ser visitado pelo menos uma vez na vida. Esta vila, do distrito de Setúbal. Esta região é limitada a norte pelo município de Alcácer do Sal, a leste por Ferreira do Alentejo, a sul por Santiago do Cacém, a oeste pelo oceano Atlântico e a noroeste, pelo Estuário do Sado.

A paisagem é espectacular: paisagens de mar e montanha, praias compridas e uma gastronomia rica que combina o melhor do interior e o litoral. A povoação é pequena, mas compensa com uma oferta turística variada. Também aqui o estuário do Sado faz parte da envolvente, sendo a região ainda influenciada pela serra da Arrábida que a protege dos ventos norte.

Nesta primavera, não deixe de passear nas praias de areia branca, como Tróia, Melides, Carvalhal, Comporta ou Aberta Nova. Se o tempo ajudar, pode até dar uns mergulhos. Na serra, os extensos bosques de sobreiros cobrem formações rochosos que se erguem quase 400 metros sobre o mar. Por perto há ainda a lagoa de Melides onde pode aproveitar para ver restos antigos de presença humana: o dólmen da Pedra Branca e a necrópole das Casas Velhas.

No Lousal, poderá visitar o Centro Ciência Viva do Lousal, a Casa do Mineiro de São Domingos ou o Porto Mineiro do Pomarão. A visita ao local, pode incluir uma visita às ruínas romanas do Cerrado do Castelo, termas da antiguidade e, mais recente, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, um templo do século XVI. É virtualmente impossível, quando se pensa em Grândola, não recordar a clássica música de Zeca Afonso, que nos remete para a época da revolução dos cravos.

A gastronomia local combina influências litorais e interiores. Sopas, massas de peixe e marisco e caldeiradas, além das enguias, são pratos estrelas locais. Em Canal Caveira poderá degustar um dos melhores cozidos à portuguesa do panorama nacional, segundo amplo consenso.

Experiências gastronómicas em Santiago do Cacém

Santiago do Cacém

Seguindo para Sul, a próxima paragem é em Santiago do Cacém. O nome da cidade, ainda no distrito de Setúbal, deriva do Governador Mouro Kassim e da Ordem de Santiago.

Uma das propostas de turismo na região é a Rota Vicentina, uma rede de percursos pedestres, com 450 quilómetros, ao longo da zonas costeira do sul do país. O percurso está integralmente sinalizado e pode ser percorrido nos dois sentidos, em total autonomia e segurança, preferencialmente entre os meses de setembro a junho.

Opcionalmente, poderá optar pelo percurso pedestre do Salgueiral da Galiza, pelo percurso da Casa do Peixe, pelo percurso do Poço dos Caniços ou por conhecer a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e Sancha, com todos os seus caminhos e pontos de interesse.

Poderá conhecer melhor a cidade através dos passeios já desenhados. Pode começar o seu percurso no Centro Histórico de Santiago do Cacém, seguir pelo Passeio das Romeirinhas, que circunda o Centro Histórico, e visitar os Miradouros e a Capela de São Pedro. O Castelo e a Igreja Matriz de Santiago, ambos monumentos nacionais, estão no núcleo do Centro Histórico. Visite ainda a Igreja do Espírito Santo, o Pelourinho, a Torre do Relógio, o Antigo Hospital do Espírito Santo, a Antiga Casa do Prior, a Antiga Casa da Colegiada, o Palácio da Carreira e a Igreja da Misericórdia.

Visite ainda a Tapada dos Condes de Avillez, o jardim botânico com um parque poético que nos transmite paz e serenidade. A visita à cidade pode ainda incluir passagens pela antiga judiaria, pela Sociedade Harmonia, pela Casa Verde, pela Casa Amarela , pela Casa das Heras e pelos Antigos Paços do Concelho.

Siga para sul, para Odemira.

Cabo Sao Vicente

Odemira

Aproveite a app “Descubra Odemira” para escolher os locais a visitar em Odemira. A app define o percurso, mostra as distâncias entre os lugares, dá informação monumentos, histórias e locais e ainda tem uma agenda para os eventos do concelho.

Também aqui, a nossa sugestão vai para os passeios pedestres, no âmbito da iniciativa mais abrangente “Alentejo a Pé”. Há oito caminhos à escolha, alguns circulares (Almograve, S. Luís, Troviscais, Santa Clara, Saboia, Bordeira e Carrapateira), que complementam e enriquecem os clássicos do costume: Caminho Histórico e Trilho dos Pescadores.

Opte por exemplo por passear entre as dunas de Almograve. O percurso coincide em parte com o trilho dos pescadores, oferecendo uma perspetiva do lado agrícola da região. O percurso das Horas de São Luís é mesmo muito curto, ideal para principiantes. Por aqui poderá apreciar as hortas e quintais de S. Luís.

Se preferir as rotas de Santa Clara (duas opções, uma mais curta e outra mais longa) fica a conhecer a pacata aldeia de Santa Clara-a-Velha, que dá nome à barragem que criou um lago no concelho.

Deixando o Centro Histórico, dirija-se aos vários restaurantes da cidade. Os pratos típicos são: “Os miolos”, os jantarinhos e os cozidos e a saborosa Carne de Porco Preto. As Migas à Alentejana, as Sopas de Tomate, o Gaspacho, a Açorda e os Pratos de Caça complementam a recheada ementa.

Ourique

Prosseguimos para o Alentejo. Ourique é uma bonita vila Alentejana, sede de concelho, situada na zona de transição entre a região Algarvia e a Alentejana, caracterizada pelo seu alvo casario que se espalha sobre três serenas colinas.

A região apresenta vestígios de ocupação humana desde tempos pré-históricos, pelo que poderá visitar pontos como o Centro Arqueológico do Castro da Cola ou Cidade de Marrachique, com vestígios de ocupação neolítica.

Reza a lenda que terá sido aqui nesta zona que se terá travado a Batalha de Ourique que deu a vitória a D. Afonso Henriques, em 1139, e abriu portas para a fundação da nação. Para visitar, deverá colocar na sua agenda de viagem o que resta do antigo Castelo, de provável fundação Mourisca, a Igreja da Misericórdia, do século XVI, o Hospital da Misericórdia do século XVII, as Igrejas de Santa Maria e a de São Salvador, ou mesmo o Centro Arqueológico do Castro da Cola.

Ao Santuário de Nossa Senhora da Cola, do século XVII, acorrem anualmente muitos fiéis e curiosos para assistir à peregrinação.

De Moura a Barrancos, rota pelo sol do Alentejo

Aljustrel

Aljustrel é a próxima localidade no mapa . É também uma das mais antigas povoações de Portugal, integrada entre duas colinas, um vale, casario em socalcos e paisagem a perder de vista, como é apanágio do Baixo Alentejo.

Aqui estamos no coração do Baixo Alentejo. A antiga cidade romana foi conquistada aos mouros em 1234, por D. Sancho II, D. Paio Peres Correia e os Cavaleiros da Ordem de Santiago de Espada. Nos últimos dois séculos, a região dedicou-se à extracção mineira. O que acabou por moldar os hábitos e tradições.

No concelho, visite Messejana e o seu Museu, onde se encontra por exemplo, uma sala reconstituindo o escritório de Soares Victor, filho ilustre da terra, os cântaros utilizados por Francisco Manuel Bartolomeu, último aguadeiro de Messejana, e ainda a reconstituição de várias dependências das casas típicas alentejanas, nomeadamente as cozinhas, a despensa, o quarto de cama e a casa da costura.

Infelizmente, a passagem dos anos destruiu parte do património da cidade. Mas ainda pode visitar o que resta do Castelo de Messejana fica situado no cimo de uma colina junto à Igreja Matriz, a uma altitude de 219 metros e que se pensa ter sido construído pelos romanos. O Castelo possuía uma muralha em pedra a toda a volta, e a sua torre de menagem tinha 10 metros de altura, podendo ainda hoje ver-se os restos do lado virado para a vila. Consideradas um dos ex-libris da povoação, as Ruínas do Castelo de Messejana e envolvente, foram classificados como Imóvel de Interesse Público, em 1992.

Visite ainda a Ermida de Santa Maria do Castelo. Edificada no local onde se erguia anteriormente o Castelo de Aljustrel, encontra-se na Ermida uma pedra da construção original do castelo. Diz o povo que, ao encostar o ouvido a essa pedra, se ouve o som do mar, e que, se alguma vez ela for retirada da igreja, o oceano entrará pela terra dentro e alagará a vila. A Ermida e a área envolvente, que inclui as ruínas do Castelo (islâmico), foi classificada como Imóvel de Interesse Público, em 1992. Para comer, em Aljustrel, poderá escolher o restaurante Típico o Preto e para ficar, a Residencial S. Pedro.

Ferreira do Alentejo

Continuando para norte, chega a Ferreira do Alentejo. É uma vila alentejana, surgida do século XVII como uma miragem. Sede de concelho fica numa zona onde a típica planície começa a registar pequenas ondulações e a ganhar altitude. A história é rica e os vestígios de antigas civilizações remontam aos tempos da ocupação dos Visigodos e Romanos. Após a reconquista Cristã, e tal como outras localidades da região, como a já referida Aljustrel, passou a pertencer à ordem de Santiago. A esta ordem cabia a jurisdição do castelo que, entretanto, deixou de existir.

Por estas bandas existe uma forte componente religiosa incluindo a Igreja Matriz, do século XVI ou a Igrejas de Nossa Senhora da Conceição. Nesta igreja encontra-se a imagem da padroeira que acompanhou Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia e também azulejos do século XVII. Outra igreja é a da Misericórdia, edificada no século XVI e que ostenta um pórtico Manuelino que anteriormente se encontrava na Capela do Espírito Santo, entretanto demolida. Acrescem às igrejas, a Capela do Calvário e a Capela de Santa Maria Madalena. Tudo a não perder neste passeio mais extenso pelo baixo Alentejo.

É também em Ferreira do Alentejo que pode visitar casas senhoriais e palacetes como o Solar dos Viscondes, a Moradia D. Diogo Maldonado Passanha, o antigo Palacete de João Carlos Infante Passanha ou mesmo o edifício do Antigo Tribunal da Comarca de Ferreira do Alentejo.

Não deixe de visitar, nas proximidades da Vila, a Peroguarda, uma aldeia tipicamente alentejana composta por um belo casario branco e singelo. É também aqui que encontra o pulcro cruzeiro esculpido de 1740 e a Igreja de Santa Margarida, de traços quinhentistas. Outra aldeia típica e pacata a conhecer é Messejana.

Mértola

Alvito

E eis-nos chegados a Alvito. Acima de Ferreira do Alentejo e paredes meias com o concelho de Cuba. É uma vila pacata, onde se respira paz de espírito e tranquilidade. O casario é branco, como é apanágio no Alentejo decorados com as típicas faixas amarelas ou azuis.

Também aqui a presença humana deixou testemunhos desde o neolítico, passando pela idade do cobre, do bronze e do ferro. Foi em tempos uma importante localidade, mas o desenvolvimento estagnou na década de 60 do século XX.

O património, esse, é riquíssimo. A vila desenvolveu-se em redor do castelo, erigido no século XV. Como em Alcácer do Sal, também o edifício foi transformado em Pousada. A vila apresenta-se marcadamente Manuelina, pontilhada de arcos. É de facto a localidade do Baixo Alentejo onde existe a maior concentração de portais manuelinos.

Aqui os edifícios religiosos dominam. É o caso das igrejas de Nossa Senhora da Assunção, de Santo António, Matriz de Alvito, Misericórdia e ainda as capelas de Nossa Senhora das Candeias, de São Bartolomeu. Acresce ainda o convento de São Francisco ou no de Nossa Senhora dos Mártires.

Outra atração da vila, por baixo da praça do Rossio são as chamadas Grutas do Alvito, um conjunto de galerias subterrâneas resultantes da exploração de pedra desde o século XII. Não deixe ainda de visitar, nas proximidades de Alvito, o Palácio de Água de Peixes, um edifício medieval, cuja construção remonta ao século XII.

Cuba

Cuba

Saído do concelho de Alvito, aproxima-se de Cuba. É uma vila curiosa. A construção é bem mais recente do que as suas vizinhas. Aqui pode visitar o convento e a igreja do Carmo, onde foi instalado o antigo Hospital no Paço do Duque de Beja.

Chegou a ter 12 igrejas, das quais só sobrevivem cinco, mas tem ainda muitos pontos curiosos para ocupar uma longa visita à terra. As ruas da Mouraria e do Carmo guardam alguns dos vestígios mais antigos da localidade, o largo da Igreja é de visita obrigatória e a Adega do Arrufa é um bom exemplo das adegas da região.

Beja, janela para o Baixo Alentejo

Beja

Beja é o epicentro da região. Os romanos andaram por aqui. Para uma região com tão distinto passado histórico, Beja surpreende-nos com a sua pose simpática e despretensiosa de cidade do interior.

Ligeiramente mais alta do que a vizinhança, observa calmamente a planície que se deita a seus pés e fica no centro de uma confluência de estradas que nos levam a algumas das povoações mais pitorescas do Baixo Alentejo e, talvez por isso, mantém o seu ar pachorrento de quem não se preocupa com o tempo que passa.

Beja foi o palco da paz assinada entre lusitanos e romanos, facto que lhe valeu na época o nome de Pax Julia, e recebeu depois visigodos e mouros, tendo crescido no domínio destes últimos para um dos mais importantes centros intelectuais da época. Hoje é a senhora do Baixo Alentejo, erguendo-se no alto de uma colina.

Beja tem vindo a crescer e a modernizar-se. Mas, o centro histórico está muito bem preservado, acessível e agradável para um forasteiro que procura apenas um breve contacto com a cidade. Mas também para os verdadeiros viajantes que queiram viver a cidade de forma mais profunda. Visite o castelo e o Museu da Rainha Dona Leonor.

Para comer, tome nota: migas de carne de porco, açorda de coentros, gaspacho, vinagrada, ensopado de borrego. Para a sobremesa papos de anjo, morgados e fios de ovos. A doçaria conventual no seu melhor. Finalmente, o queijo da próxima localidade a visitar: Serpa.

Recomendamos que fique no Vila Galé Clube de Campo, um hotel maravilhoso no meio da planície.

Serpa

A nossa rota prossegue para a vila de Serpa. Entre os largos territórios espalham-se minúsculas aldeias como fotografias de outras épocas. Separadas por regatos nascidos nas baixas colinas, raramente acima dos 500 metros de altura sobre o nível do mar, é aqui que encontramos o queijo de ovelha famoso muito além do Alentejo.

Digna de relevo é também a muralha medieval que envolve um conjunto histórico ímpar. As casas brancas são apenas uma parte da paisagem e da riqueza da vila. A própria muralha merece menção: por ela corre um aqueduto que servia para levar água da nora até ao Palácio dos Melos que se encosta aqui.

Good Year Kilometros que cuentan