Do Barreiro ao Seixal, as paisagens da Outra Banda

26 Dezembro | 2016 | Goodyear

A Goodyear foi passar para a Margem Sul do Tejo, tendo a Baía do Seixal como destino e descobriu uma paisagem que junta o rural, a indústria e o rio.

A mistura de mundos e histórias que encontramos num passeio entre o Barreiro e Seixal é surpreendente e uma experiência esclarecedora para quem conhece a zona como apenas a “outra banda”. Plena de recordações que nos levam até à ancestral exploração do sal, passando pela explosão industrial da segunda metade do séc. XIX, e o pitoresco das vilas que encontramos pelo caminho com as suas pequenas ruas e igrejas, ainda é local onde se cozinha bom peixe mas também se sente bem ainda o Ribatejo e o prazer da carne.

A margem sul do Tejo, quando se abre na foz acima de Cacilhas, é uma das zonas que mais fortemente conheceu os efeitos da máquina a vapor e rapidamente se industrializou durante o século XIX. Ao mesmo tempo, continuaram a existir aqui atividades ancestrais como a pesca, agricultura ou a exploração do sal, o que deu origem hoje a uma curiosa paisagem onde os elementos rurais podem ser subitamente cortados por vestígios de antigas fábricas abandonadas. Por rio ou por terra, a redescoberta de algumas destas povoação da Outra Banda leva-nos ao reencontro com ruas típicas, praças, jardins, coretos e pequenas igrejas que convivem lado a lado com os sinais de antigas histórias e atividades.

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    Dois mundos no Barreiro

    Tornou-se vila no séc. XVI, mas foi no princípio do século XX que o Barreiro começou a crescer até se transformar no maior centro industrial do país. Apesar disso, e com este crescimento tão súbito, ainda hoje se mantém em relativo bom estado uma série de praças, igrejas antigas, o coreto e associações que foram importantíssimas na história da cidade e, algumas, até do país. Um passeio pela Avenida da Praia dá-lhe direito à melhor vista sobre Lisboa, na zona ribeirinha encontrará excelentes restaurantes e pastelarias onde provar a bola de manteiga, um bolo regional parente da bola de Berlin mas com argumentos que o fazem sobressair por si próprio. Recomendamos as da Pastelaria Moderna.

    Antiga zona de veraneio

    No caminho para a Moita através da N11 passamos pelo Lavradio e Alhos Vedros onde ainda se faz a extração de sal, mas que cresceu inicialmente por causa das suas boas praias e fruta, dando a origem a várias quintas de fidalgos que, infelizmente, não resistiram ao tempo. Logo de seguida, ao passarmos na Baixa da Banheira, vale a pena uma visita à zona ribeirinha, de onde podemos apreciar a forma como os esteiros se formam nesta zona do rio.

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    Terra de rio e de touros

    Segundo alguns autores a Moita terá ganho o seu nome devido à tradição dos habitantes originais, antigos carvoeiros, usarem a lenha das moitas na sua atividade. Apesar de ser terra de tradições antigas, mudou muito nas últimas décadas, quando deixou de ser uma localidade virada para o rio e tornou-se muito mais um dormitório de Lisboa. Contudo, ainda estão cá os sinais desse passado como a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem ou no barco Varino recuperado que podemos ver a partir da Avenida Marginal. Ainda famosa é a paixão da localidade pelas touradas e as Festas da Moita, por isso os aficionados têm sempre onde acorrer a partir de maio.

    Histórias de Descobrimentos e da indústria

    Saindo da Moita pela A33 na direcção da Arrentela, vamos cruzar-nos com Coina e, mesmo ao lado, o antigo Vale do Zebro. Aqui, a seguir à Mata Nacional da Machada eram produzidos os biscoitos que seguiam nas caravelas dos descobrimentos, com a ajuda dos moinhos de maré hoje em dia substituídos por um quartel dos fuzileiros. Passado o esteiro, chegamos à Arrentela, onde foi montada a primeira máquina a vapor em Portugal na fábrica de lanifícios local em 1862. Apesar de abandonados, alguns dos edifícios ainda lá estão, na N10, e são local de visita para os apreciadores de locais abandonados e curiosos.

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    Com um pé na baía

    A região da Amora era também uma zona de descanso nobre, para príncipes e princesas à procura de repouso e recreio. As antigas quintas foram gradualmente substituídas por bairros residenciais que acabaram por adoptar a denominação original e são a maior parte das memórias que restam. Apesar disso, ainda podemos encontrar alguns antigos palácios rodeados por zonas verdes, como a Quinta da Princesa e Infanta e uma série de moinhos que usavam a energia das marés em diferentes actividades. Vale ainda a pena a condução ao lado da margem, pela avenida Silva Gomes, a partir de onde se tem o panorama completo sobre o Seixal.

    De seixos a Seixal

    Na altura em que os Varinos eram uma visão normal no Tejo, o Seixal era o local onde recolhiam o seu lastro. Os seixos da praia desta localidade deram-lhe nome e ainda levaram bem longe a fama da terra. Desde a época dos descobrimentos que o Saco do Seixal, a designação oficial para a zona que vai daqui até ao Alfeite, eram ponto de construção e reparação de navios. Terá sido o próprio Vasco da Gama a inaugurar a Quinta da Fidalga, que ainda resiste, está em bom estado de conservação e pode ser visitada, ele próprio também um filho da terra, com uma família a morar há várias gerações no Seixal. Ao pé da antiga estação da CP, a Quinta da Trindade, é outro orgulhoso exemplo desses tempos. A zona ao pé do rio merece ser feita a pé, aproveitando para almoçar num dos restaurantes sobranceiros ao Jardim da Praça ou ao longo da Av. D. Nuno Álvares Pereira.

    Good Year Kilometros que cuentan