Em Boticas alegra-se os vivos com o Vinho dos Mortos

24 Novembro | 2016 | Goodyear

Em Boticas a tradição do Vinho dos Mortos começou com as invasões francesas e a Goodyear foi até Trás-os-Montes descobrir o segredo deste néctar.

Boticas guarda uma tradição com mais de duzentos anos, em que o vinho é enterrado de um ano para o outro para um processo de estágio muito singular. O objectivo é apurar as propriedades e o sabor, e o resultado é o Vinho dos Mortos, um palhete com uma gaseificação natural que, apesar de restrito a uma colheita anual relativamente reduzida, enche de orgulho as gentes das Terras de Barroso. Numa rápida passagem por Trás-os-Montes, a Goodyear trouxe umas garrafas na bagagem e só temos coisas boas para vos contar sobre este vinho e sobre a vila de Boticas.

A zona de Boticas vai desde as severas cumeadas da serra das Alturas até ao fundo da cova de Barroso, de Leiranco ao Tâmega, numa mancha verde em que se vive uma bucólica panorâmica rural, com a influência do Gerês mas também das terras mais baixas. Uma singular força telúrica parece emanar destes solos, com a Serra do Barroso a chamar a si toda as energias e atenção. Encontramos o forte cheiro a terra húmida e campos lavrados, e nada parece mais natural do que haver uma magia em Boticas que nasce debaixo do chão.

Boticas, vista do rio, praia fluvial

Boticas transformou a escuridão num néctar luminoso

A história do Vinhos dos Mortos começa em 1808, quando as tropas napoleónicas invadiram a Península e passaram pela região de Boticas, vindos de Chaves. A população escondeu tudo o que pode do saque francês, incluindo a colheita daquele ano que enterraram debaixo de terra. Já em paz, o povo desenterrou os seus haveres e, depois de julgar que estava estragado, descobriu uma agradável surpresa.

Depois de passar alguns meses a fermentar no escuro, a uma temperatura constante, o vinho de Boticas estava transformado num agradável palhete de cerca de 11 graus, com um gás natural que lhe emprestava uma muito particular textura e frescura. O nome escolhido para a descoberta foi tétrico, mas óbvio: Vinho dos Mortos.

Duzentos anos passados, em Boticas e Granjas já não há muitos produtores a enterrarem os seus vinhos, por isso a produção anual não costuma ultrapassar as 7.000 garrafas. Armindo Pereira é um dos últimos a usar o método tradicional e é o único a colocar a sua produção no mercado, apesar da distribuição limitada a apenas quatro locais da vila, uma ou outra garrafeira especializada em Lisboa e Porto, e um site para venda online.

Um ano de trabalho

A arte foi passada ao longo de gerações e desenvolvida até resultar num vinho único. Tudo começa em Novembro, quando são plantadas as novas castas na encosta poente de Boticas. Quando o Inverno começa a amainar, em Fevereiro, faz-se a poda , aduba-se e cava-se a vinha. Passados dois meses é feita a enxertia, o que leva as videiras a começar a rebentar com o calor da primavera. Segue-se a fase das caldas de enxofre e sulfato, até à primeira semana de Agosto, até que chega o momento mais esperado do ano, a vindima da primeira semana de Outubro.

Depois de pisadas as uvas à maneira tradicional, o vinho começa a fermentar e fica no lagar durante os próximos seis dias. Segue depois para as pipas, onde continua a fermentação e, após atingir a fermentação malolática, começa a fase de certificação. Só depois é que é engarrafado e dá-se o momento que vai criar a magia deste néctar.

O vinho é enterrado debaixo das pipas e do lagar, é coberto com saibro, para estar a uma temperatura constante e sem claridade, e aí irá repousar durante seis meses. Só em Junho chegará a altura de provar a colheita do ano anterior. O resultado final é o tal palhete que fica esplêndido a empurrar a vitela e o presunto regionais, que se costumam fazer acompanhar por umas excelentes batatas.

Diz-se que as Terras de Barroso são domínio de bruxas. Montalegre e Pitões das Júnias ainda são famosos pelas suas festas da Noite das Bruxas e Vilar de Perdizes também não fica longe. Bem vistas as coisas, com este ambiente e com uma presença tão forte das energias da terra, nada mais natural que também venha do mundo dos mortos uma tão rica dádiva para os vivos.

Good Year Kilometros que cuentan