Canções longas para viagens compridas

3 Novembro | 2015 | Goodyear

Quando uma viagem é demasiado longa precisa de uma banda sonora à altura… do seu comprimento

Confesse. Todos adoramos escutar música enquanto conduzimos, mas até mesmo os nossos artistas favoritos têm um limite e afinal terminamos cansados de repetir a mesma playlist até os nossos ouvidos aborrecerem a voz querida. Esse instante terrível em que dizemos “basta” de uma peça excessivamente repetida. Uma viagem longa é um momento propício para ficarmos chateados a escutar em circuito o mesmo. As canções são curtas e os álbuns depressa irão esgotar-se no nosso rádio. Precisamos de algo distinto.

Não tenha medo! Para as viagens longas foi que criamos uma playlist de canções acima (ou muito perto) de dez minutos que garantem um deslocamento animado. Estilos diversos, artistas diferentes e épocas distintas. Se viajar acompanhado no seu carro ninguém irá queixar-se!

1-In a gadda da vida – Iron Butterfly. Canção rock de 1968 que se estende durante mais de 17 minutos. O álbum homónimo reserva para ela o lado B inteiro. Com uma letra muito simples no começo e final da peça, esta canção marca a história do rock porque indica, junto a Blue Cheer e Steppenwolf, o momento exato no qual a música psicadélica começou a produzir heavy metal. Um caminho assinalado para o percorrerem, na década seguinte, Deep Purple ou Led Zeppelin.

2-American Pie – Don McLean. Melodia emblemática a que já dedicamos tempo neste blogue, é uma homenagem aos músicos Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Popper, todos eles mortos no mesmo acidente aéreo de 1959. É uma anção enigmática e estranha, cheia de interpretações distintas e nunca aclarada pelo seu autor. “Um silêncio digno” é tudo quando Don McLean responde mais uma vez à eterna pregunta sobre o significado. Pela sua importância no património musical dos EUA, o projeto educativo Songs of a Century considerou-a a quinta canção mais importante numa lista de 100 do século XX.

3-Child in Time – Deep Purple. Já dissemos acima o quanto deve Deep Purple a Iron Butterfly, e esta canção é uma mostra. 10 minutos e 18 segundos muito superiores à icónica Smoke on the water e uma das primeiras canções do heavy metal registadas. A intensidade vai crescendo desde o início graças à voz de Ian Gilliam e a um solo de guitarra épico que ocupa mais de dois minutos. Afinal, a sensação é análoga ao despertar de um pesadelo. Um muito elaborado.

 4-Funeral for a friend/Love lies bleeding – Elton John. O álbum de 1973 Goodbye Yellow Brick Road do músico britânico misturava acertadamente pop, rock and roll, reggae, rock, rhythm’n’blues e baladas. Os 11 minutos de Funeral for a friend/Love Lies Bleeding são para o autor “a música de que gostava para o meu funeral”. Nascida como duas canções diferentes, começa com uma introdução épica que é seguida pelo piano de Elton John. Após o minuto 6 é uma obra pop muito própria do cantor.

Música - Quilometrosquecontam

5-Echoes – Pink Floyd. Subimos agora até aos 23 minutos e meio com esta canção que há quen considere a melhor da história. Como é habitual na banda, é uma canção muito por cima dos 10 minutos e ocupa inteiro o lado B de Meddle, álbum de 1971. Indicou muito claramente os caminhos que iria seguir a banda posteriormente.  Possui uma atmosfera muito especial com um estranho som inicial parecido com um sonar que vai incrementando o seu volume com um ritmo tranquilo, até começar um órgão a soar acompanhado pela guitarra de Gilmour. Desvenda-se, então, um mundo tranquilo e interior. A evolução da canção leva-nos até a um mundo desértico onde soam os ecos de criaturas desconhecidas e um vento forte, caminho de uma incrível explosão de rock.

6- Flying – UFO. Quase 27 minutos dura este single do segundo álbum da banda de hard rock. Mick Bolton, o guitarrista, deixaria logo a seguir a banda, sendo que este disco foi o seu último contributo. Desde 1971 surpreende-nos ainda a frescura desta canção.

7- The March of the Black Queen – Queen. Inferior a 7 minutos mas repleta de música. A própria banda reconhece nesta canção “o pai da Bohemin Rhapsody”. Queen no seu máximo expoente. Diferenças bruscas e sucessivas de estilos e sons e um passeio por todas as marcas clássicas do grupo: os tons da voz de Freddie Mercury, um piano sublime, o desempenho brutal na guitarra de Brian May, uma aparição estelar da voz de Roger Taylor e o baixo elétrico de John Deacon. Se calhar a melhor canção de Queen.

8-The Musical Box – Genesis. 1971, a banda surpreende-nos com Nursery Crime, que inclui esta canção que destrói a ladainha daqueles que dizem que o rock progressivo é demasiado elegante e aborrecido. Phil Collins esbanja este preconceito durante toda a canção na bateria. O som mexe-se entre a balada barroca e o metal sinfónico.  Muito adiantada ao seu tempo, é uma autêntica viagem sonora mais do que recomendável.

9-Underture – The Who. Enquadrado no lado B de Tommy, o álbum que tirou a banda das penalidades da sua má situação dos últimos 60, Underture é uma canção de quase 10 minutos que incluimos nesta playlist pelo peso específico que o álbum inteiro teve na recuperação de The Who. Falamos da primeira ópera rock para alguns fãs, e um trabalho idolatrado que constitui o primeiro álbum de rock and roll a narrar uma história de modo linear. Quando soar no seu carro estará a escutar verdadeira História da música.

10- Sinfonia 25 de Mozart. Encerramos a playlist mergulhando na música clássica, nesta ocasião numa composição de Mozart que, dependendo da versão, pode durar 10 minutos ou atingir os 25. Uma parte da peça está incluída no filme Amadeus de 1984, uma fantasiosa lembrança da rivalidade entre aquele e António Salieri. Findamos este percurso com um bocadinho de música clássica para não nos empantanar no rock e poder afirmar que, afinal, o importante não é a duração nem o género, mas a qualidade.

Good Year Kilometros que cuentan