Os indies também amam os seus carros

15 Fevereiro | 2016 | Goodyear

Dos Radiohead aos Belle & Sebastian, uma playlist que mostra como a música alternativa também ama as quatro rodas

A velocidade e o ronronar dos motores não são coisas que interessem apenas a rockers puros e duros. Também os adeptos da música dita “independente”, que imaginamos mais habitualmente em cima de uma bicicleta, não se inibem com a sedução das quatro rodas. A estrada serve de cenário para tantas narrativas e o volante é o confidente escolhido em muitos dos grandes temas da indie.

1. “Autobahn” – Kraftwerk. Em 1974, quando a banda alemã editou o seu quarto álbum, “Autobahn” era um épico de mais de 20 minutos que glorificava o modernismo e uma fase de “ouro” europeia, através de um extenso périplo por uma das suas estradas, a A555, de Colónia até Bona. Ao longo do tema, os Kraftwerk introduziram diversos andamentos de forma a ilustrar ultrapassagens, a rápida condução na via da esquerda, a monotonia de muitas horas ao volante ou a mudança de estações no autorádio. Ainda não se tinha “inventado” a música indie, mas esta era uma banda muito à frente do seu tempo.

 2. “I Love My Car“ – Belle & Sebastian. As guitarras destes escoceses mostram bem como o prazer da condução é coisa que pode ser vista por muitos prismas diferentes: enquanto os Steppenwolf viam a estrada como o sítio para se fugir e ser-se selvagem, os B&S querem estar bem acompanhados. Levam o cão, o gato e tudo o que mais couber no banco de trás. Aquilo que querem é “ver-nos sorrir”.

3. “Keep The Car Running” – Arcade Fire. Não é por acaso que a imagem que vem à cabeça aos primeiros acordes deste tema é a de Bruce Springsteen, em plenos anos 80, a conduzir um 18 pelas longas estradas da América. Os canadianos mais queridos da cena indie estavam particularmente festivos quando o escreveram, e é a música ideal quando a condução está a correr particularmente bem e só temos vontade de engolir quilómetro atrás de quilómetro.

 4. “Killer Cars” – Radiohead. No habitualmente conturbado segundo álbum, os Radiohead estavam ainda ensaiar as meninges para a pequena revolução que guardavam para “OK Computer”. Neste tema, Tom York fala-nos de um passeio de carro de onde não se volta e do risco de uma travagem súbita, ideias que fazem a ligação directa ao álbum que se seguiria e são quase uma introdução ao momento em que “an airbag saved my life”.

5. “Brand New Cadillac” – The Clash. Punk que é punk não anda de carro, mas os Clash nunca se importaram com etiquetas e são um dos grandes exemplos de bandas ecléticas, capazes de agradar a gregos e troianos sem fazerem concessões. “Brand New Cadillac” é um standart rock, à boa maneira dos Crickets ou de Bill Flagg, e começa com o grito certo: “Drive!!!!”

6. “Road to Nowhere” – Talking Heads. Mesmo nesta “idade” do GPS, parece que ainda é possível perdermo-nos. David Byrne não quer saber onde está, tem uma cidade na cabeça (que até fica em lugar nenhum) mas, desde que o acompanhemos, tudo ficará bem. O ritmo maquinal deste clássico ajuda a sentirmo-nos no caminho certo e chama-nos à estrada como poucas canções conseguem. Insubstituível em qualquer playlist bem humorada.

7. “Ridin´ in my car” – She & Him. Quantas vezes associamos uma estrada ou um passeio a determinado momento das nossas vidas? E, se estamos a falar de música pop, é claro que não faltam aquelas canções que nos recordam os momentos românticos de verões passados, quando aquela viagem para a praia serviu para nos declararmos e roubar um beijo. Percebemos perfeitamente o que Zooey Deschanel quer dizer quando canta: “I still think about you every time I’m ridin’ in my car”.

8. “The Distance” – Cake. Em meados dos anos 90 os Cake pareciam destinados a ser a “next big thing” depois dos mega sucessos das versões de “Perhaps, perhaps” e “I Will Survive”. Tal não chegou a acontecer apesar de a banda ainda se manter activa, mas “Fashion Nugget”, o álbum de 96,  estava pleno de referências à paixão pelo asfalto como “Race Car Ya-yas”, “Stickshifts and Safety Belts” e este “The Distance”, que nos apresenta um piloto que nem imagina que a corrida já acabou.

 9.  “Behind the wheel” – Depeche Mode. O original (de “Music for the Masses”) começa com o som de uma tampa de pneu a rolar pelo chão… Dificilmente os Depeche Mode poderiam ter sido mais explícitos em relação ao cenário de “Behind the Wheel”. O baixo sintético que empresta o esqueleto a este grande tema faz as vezes de pistão: num movimento maquinal em direcção ao horizonte, entregamo-nos às mãos do condutor e entramos pela noite escura.

 10. “The Passenger” – Iggy Pop. Já é noite avançada e as “pessoas de respeito” estão em casa a dormir, mas ainda há um mundo bem desperto pelas ruas da cidade. São as horas em que as personagens mais soturnas saem, enchem becos e ruelas e convidam-nos a ver as estrelas e este céu que foi feito só para nós, passageiros atrás do vidro, entre as luzes e as sombras. Se não fosse tão tarde, metíamos o volume no máximo e espalhávamos os acordes de Iggy Pop por toda a cidade…

 

Good Year Kilometros que cuentan