Entre a Ria e o Rio: o melhor da gastronomia algarvia

21 Agosto | 2019 | Goodyear

O Sotavento do Algarve tem muitos e bons sítios para comer. A Goodyear mostra-lhe os melhores restaurantes entre a ria Formosa e o rio Guadiana.

Na nossa busca por marisco e peixe bem confecionados, de forma genuína e original, vamos ter sempre que passar por Vila Real de Santo António, Altura ou Castro Marim. Bem abrigado entre Espanha e o mar, com a riqueza da Ria Formosa mesmo ali ao lado, o sotavento algarvio guarda ainda uma forma muito especial de lidar com os frutos colhidos nestas águas: marisco e peixe de qualidade excecional chegam aqui todos os dias e não faltam capelinhas de visita obrigatória para qualquer amante da boa cozinha.

Mestres da pesca e da cozinha 

Ainda muito recentemente defendemos a tese que, quando toca a confecionar peixe, não há mestre como um pescador veterano. Se o axioma é verdadeiro para Setúbal, não o é menos para quem “lavra” o mar mais a sul. A esta tradição o povo adicionou a mescla com a cozinha andaluza e deixou bem evidente que essa coisa das fronteiras perde importância quando os povos se sentam à mesa.

P´ro mar tudo, p´ra terra nada, cada um nasce p´ro oficio que Deus lhe deu” 

(ditado popular antigo de Monte Gordo)

Vila Real de Santo António é sinónimo de peixe fresco mas é também a casa dos “Cuícos”, o nome que se escolheu para designar a população que chegou do Alentejo, da serra algarvia e de terras de Espanha, à procura do mar fértil.  Enrudecidos pela faina, não foi por isso que ignoraram as artes da cozinha que traziam das suas origens, deixando uma herança que hoje facilmente encontramos na gastronomia local: aqui não se encontram requintadas iguarias ou segredos.

Em vez disso, o sotavento é local para quem procura o prazer dos pratos do povo, feitos “à antiga” e ao gosto de quem os vai comer.

Açorda de gambas

Restaurantes, pequenos tascos e tabernas, são espaços que não faltam no Algarve mas é nesta zona que iremos encontrar alguns dos mais típicos e baratos. Conserva-se ainda a tradição de misturar a brisa marítima com os produtos que chegam do interior campestre, dando origem a uma cozinha bem apaladada e generosa. A “apadrinhar” tudo isto está a flor de sal produzida localmente que, mesmo depois de descoberta por gourmets, continua a ser parte determinante dos sabores que nascem aqui.

Entre o mar e a terra

Comecemos então pelo peixe que aqui se grelha com exímia. Robalos, sargos, pargos, anchovas, corvinas, taínhas, carapaus e sardinhas são levados à brasa de forma rude e simples, para que seja apenas o sabor do mar a fazer a sua magia. Vila Real de Santo António teve, no passado, bastante peso na pesca do atum e os seus bifes, com muita cebola e louro, são ainda uma especialidade regional muito apreciada em todo o eixo que nos leva até Alcoutim.

A maré baixa, desde a ria até à foz do Guadiana, é pontuada pelos apanhadores de ameijoas, conquilhas e cadelinhas que grassam pelos areais. No Sapal de Castro Marim, as areias são vasculhadas em busca do caranguejo. É através das dores de costas destes homens e mulheres que é colhida a maior delícia do verão: um pôr do Sol na companhia de uma cerveja e de um prato de bom e fresco marisco.

Se quem aqui mora veio de todo o lado, trazendo consigo as suas tradições, não é de espantar que, para além dos “frutos do mar”, encontremos aqui tantas variações como as origens deste povo. Em Odeleite ainda é comum a matança do porco, que se faz acompanhar com favas ou ervilhas. A doçaria guarda sinais de origem conventual e não se inibe de recorrer a grandes doses de canela e erva-doce. Pinhões, tâmaras e figos aparecem em variadíssimas apresentações e trazem-nos à memória os tempos em que os mouros faziam destes frutos a principal riqueza do Al-Gharb.

Mini-guia gastronómico do Sotavento

Feijoada e arroz de lingueirão são as especialidades do Casa Velha, em Cacela Velha, mas os mariscos e grelhados merecem igual respeito. Apreciadores de enguia (grupo a que temos pena de não pertencer) encontram aqui um ensopado que, dizem, justifica plenamente a viagem. Não muito longe fica a Casa da Igreja, mesmo no Largo da Igreja, onde o melhor é comer lá fora, nas mesas corridas, e deleitar-se com as amêijoas, as ostras e as conquilhas.

Fábrica é um local muito pequeno que “rebenta pelas costuras” quando os veraneantes apanham aqui os barcos que os levarão até à linha de areia que se ergue em frente à ria, mas O Costa raramente se ressente. Com a Ria Formosa no horizonte, a carta conta com a pan-ibérica cataplana de marisco, o arroz de lingueirão e uns chocos fritos de excepção.

Continuando pela linha de costa, já fora da Ria Formosa, chegados à Manta Rota vale a pena a visita ao Chá com Água Salgada, um restaurante em madeira em cima do areal e onde pode comer pratos como o risotto de carabineiros, o arroz de lingueirão ou o lombo de atum grelhado.

Chegando a Altura temos o famoso A Chaminé, restaurante a que nem as celebridades resistem. O Chef Feliciano está aqui há 30 anos e poucos sabem tanto sobre as 1001 formas de cozinhar bacalhau: pataniscas, à brás, à lagareiro, cozido, assado… Apesar disso, a nossa recomendação vai para os deliciosos camarões al ajillo seguidos de um peixe assado “ao sal”.

Cataplana

Segue-se a Praia Verde, um dos nossos recantos preferidos do Algarve, discreta e escondida atrás do pinhal que lhe dá o nome. Na esplanada do Pezinhos n´Areia o ambiente é mais sofisticado e “lounge”, não se cede na qualidade e aposta-se em algumas propostas mais originais: polvo panado ou pataniscas de camarão, fazem companhia à clássica açorda e às cataplanas. Em toda a a honestidade, não é o típico e popular restaurante regional, mas a qualidade da sua cozinha justifica a inclusão nesta lista. Ainda na Praia Verde, a vista é um dos pontos fortes do Infante Panorâmico mas a comida não fica atrás, com uma bela seleção de peixe e marisco frescos.

Na direção do “sol nascente”, o Sem Espinhas da Praia do Cabeço é um pouco mais descontraído na postura e voltamos a encontrar propostas mais tradicionais: a açorda de bacalhau com gambas, a cataplana de peixe e ameijoas ou a espetada de bacalhau com camarão.

O Jaime é um dos ex-libris de Monte Gordo e nunca tem mesas vazias durante os meses de verão. Chegue cedo ou experimente uma visita fora de época para poder realmente apreciar os grelhados. O passadiço da praia é um dos novos polos de atração de Monte Gordo e não faltam sítios para comer bem, como A Barraquinha, o Cruzeiro ou o Mar Salgado, casas onde o peixe e o marisco falam mais alto.

Chegados a Vila Real de Santo António, o difícil é escolher. No Pisa II, o Chef António trata de todos os clientes do como se estivéssemos sozinhos na sala, mas este é também um dos locais mais concorridos e clássicos da cidade. Aqui recomendamos o arroz de lingueirão e os bifes de atum, mas há quem aqui venha só por causa do bacalhau na brasa ou à brás.

O Caves do Guadiana já tem um leve “cheiro” a Ayamonte: o menú está repleto de tapas e tortilhas, mas não deixa de lado especialidades locais como o ensopado de eirozes ou a estupeta de atum. Ficámos sem saber se o fantástico pudim de morango com que terminámos a refeição é um dos pratos típicos da zona, mas essa é uma dúvida a esclarecer na (inevitável) próxima visita.

Mesmo à beira do Guadiana, na Ponta da Areia e com vista para Espanha, fica o recente Grand Beach Club onde, para além de pratos como a cataplana do mar ou o polvo grelhado com alho e azeite, oferece ainda uma piscina infinita para quem consumir mais de 25€ no restaurante.

Terminamos o nosso tour um pouco mais a norte, em Castro Marim, na Tasca Medievalonde fomos à procura de uma muito recomendável e inusitada, pelo menos para nós, açorda de galinha. Foi ali que no explicaram que o prato tem tradições nas terras do Algarve interior, acompanhado por grão e servido em grandes tachos com uma fatia de pão no fundo. Mas ainda há muito mar aqui: as conquilhas, a massada de peixe e a cataplana… Impossível enganar: aqui ainda estamos em terra de cuícos…

Good Year Kilometros que cuentan