Muito para além da francesinha

2 Março | 2016 | Goodyear

Alguns dos mais populares e famosos recantos para se comer à boa maneira do Porto. Sarrabulho, cachorros quentes ou rissóis, há de tudo nas tascas portuenses

Depois muitas histórias vividas com palco nas tascas do Porto, chegámos a uma conclusão óbvia, quase uma verdade de La Palice: não se conhece verdadeiramente uma cidade sem mergulharmos nos seus hábitos mais populares. E, se o tema é comer, a Invicta é pródiga em capelinhas, colocadas nos sítios certos e com as personagens exactas, onde encontramos o melhor da gastronomia nortenha.

Pela rota das tabernas

Comecemos por tratar do “elefante no meio da sala”: os tascos mais populares do Porto vivem de muito mais do que da “Francesinha”… Mas nós gostamos dela (como não?) e até já lhe dedicámos espaço no passado, por isso perdoem-nos mas vamos já matar este assunto: Francesinhas é no Fase  (Rua Santa Catarina , 1147). O espaço continua a ser pequeno, não precisa de crescer mais, e sentimo-nos como se observássemos um artesão a trabalhar mesmo à nossa frente, por trás do balcão. É a versão “urban street food” cumprida à boa maneira do Porto e não é só uma casa “na moda”. No que toca à francesinha, é o Bufete Fase que define a moda. Para estômagos resistentes e com tempo, já que a fila pode ser longa.

Entre duas fatias de pão

Uma visita às melhores tabernas do Porto tem que explorar condignamente as ideias magníficas que a gente do Norte arranjou para rechear duas metades de pão: aqui somos fans das sandes de pernil dos Irmãos Guedes (Praça dos Poveiros 130). Conta-se que a receita usada tem origem brasileira mas confessamos que, para nós, isso é indiferente: sabe tão bem como o queijo da serra ou o presunto bem portugueses que ali encontramos. O vinho verde de Baião é também um dos ex-libris da Casa Guedes, “vício” que continuamos a encontrar em muitas outras tabernas da cidade.

Porto - Quilometrosquecontam

Finos a preceito

Num balcão disposto em “U”, onde nos sentamos em cima de bancos altos à maneira das antigas cervejarias, o Gazela (Travessa Cimo de Vila, 4) é outra capelinha que transforma o pão numa refeição. No meio de uma espécie de cacete, torrado e crocante, é servida uma salsicha e uma linguiça, abraçadas numa fatia de queijo derretido. Perfeito para acabar a noite depois de uma espectáculo no Teatro Nacional São João, mesmo aqui ao lado, na companhia de um dos “finos” impecavelmente tirados que aqui se servem.

Balcões à antiga

A Casa Louro (Rua de Cimo de Vila, 80) tem que ser visitada durante o dia, fecha cedo e não serve jantares, mas aqui corta-se o presunto de forma exímia, para criar uma sandes que é a inveja de muito restaurante. Pataniscas e o escabeche de peixe, apresentados ao balcão como é de lei, dão o toque que o ar moderno invocado pela mobiliário da casa tenta disfarçar: é uma tasca e disso não tem que se envergonhar.

Porto genuíno

Boas sandes de presunto também são o chamariz da Badalhoca  (Rua Dr. Alberto Macedo 437), casa já clássica na “invicta”, mas o óptimo pão desta também se faz acompanhar de bucho, tripas, rojões, morcela ou iscas de bacalhau. As pernas de presunto penduradas e o amor pelo Boavista demonstrado em todas as paredes, não enganam: sem concessões, este é um espaço genuíno.

Gastronomia - Quilometrosquecontam

O leitão do Bolhão

Antes de largarmos o pão, a base fundamental de todas estas bombas calóricas, experimentemos ainda um casamento com o leitão. Deliciosamente sediado no Mercado do Bolhão, o Nelson dos Leitões (Mercado do Bolhão, Loja 14) traz o referido suíno directamente da Anadia para o prazer dos convivas. Se optar pelas clássicas batatas fritas a acompanhar, sente-se e peça que lhe sirvam uma dose no prato e aprecie também um copo de vinho verde.

A tradição também se renova

Terminemos com algumas peças com mais “substância”, coisa que não falta a uma boa papa de sarrabulho. Se o leitor for como nós, que nunca tínhamos conseguido sujeitar o nosso delicado estômago a um prato que inclui sangue de porco, passe pel O Buraquinho (Pç. dos Poveiros, 33) e tenha uma experiência única. A casa foi remodelada recentemente e preparou-se para receber uma clientela mais jovem, abandonando o clássico “ar de tasca”, mas o menu continua a respeitar a tradição: moelas, bifanas, peixinhos da horta, rojões, tripas à moda desta terra e, ao domingo, recebe-se a romaria que aqui vem comer o rancho.

 À boa maneira de um batoteiro nas cartas, daqueles à antiga, que passa a tarde na taberna a jogar e a amaldiçoar a sorte, escolhemos apenas sete casas. Mas, o Porto guarda muito mais segredos e esta é só a ponta do iceberg. Deixe-nos aqui, em comentário, o seu conselho para se comer bem entre as tabernas da ribeira: vamos arranjar sempre tempo para visitar mais um destes clássicos.

Good Year Kilometros que cuentan