Uma vez foi o rei da península ibérica. Há quem diga que na antiguidade um esquilo podia percorrer de lés a lés a península sem baixar das árvores. Provavelmente fosse certo, mas também podemos acrescentar mais alguma coisa: provavelmente não quisesse descer do pinheiro porque abaixo, no chão, esperava o lobo. Porque, naquela altura, toda a península era terra de lobos.

O território de distribuição do lobo-ibérico e o seu número foram descendendo de modo alarmante desde há um século. Em princípios do S XX estendia-se por todo o território português, mas há zonas em que está desaparecido desde a década de 40. Hoje, no nosso país, a sua presença mais notável e perdurável é no Norte, existindo duas populações distintas que o Douro separa. A norte, a população mais próspera, em contacto com os indivíduos para lá da fronteira com a Espanha (a Galiza é um importante território quanto a presença do lobo). A sul, uma população em declínio que se estende pela Beira Baixa com limites imprecisos.

Mas há ainda um local onde o lobo-ibérico tem uma segunda oportunidade, e não está no Norte. O Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI) na freguesia de Gradil, concelho de Mafra, isto é, distante 30 quilómetros de Lisboa. Situado num formoso vale povoado de árvores, é um espaço onde os lobos podem viver em condições quase naturais sem serem incomodados pela presença humana, mesmo que mais de 100.000 visitantes de todo o mundo tenham vindo já para conhecer a iniciativa. Graças a um sistema que inclui sete cercados com distintos tamanhos e povoações de lobos distribuídos por um espaço de 4,5 hectares, os lobos residem numas condições muito próximas do estado selvagem num ambiente de colinas e bosques especialmente propício e muito parecido com o habitat natural deles.

Conhecer o CRLI

Existe a possibilidade de visitar o espaço aos fins-de-semana e feriados nacionais, adentrando-se num santuário natural que foge das comparações com um zoológico. Isto significa, também, que por vezes é difícil a observação dos animais, especialmente em dias de temperatura demasiado elevada. Para garantir a tranquilidade das povoações de lobos e visando o seu bem-estar, as visitas são realizadas sob condições restritas de atuação e com controlo absoluto do número de visitantes diários. É por isto que resulta obrigatório marcar a visita com anterioridade, por correio eletrónico ou por telefone, de preferência durante a semana. Ao chegar, é preciso estacionar o veículo no local exterior destinado, sem buzinar nem fazer ruído e com o rádio desligado. Case leve consigo um animal de estimação, tem de ficar no interior do veículo. Os visitantes são recebidos no Centro de Recepção e apenas quando lhes for asignado um guia da equipa do centro é que poderão entrar no perímetro do CRLI. Para as pessoas interessadas em tirar fotografias do espaço e dos lobos, é preciso assinar um protocolo prévio com o centro. Todas precauções compreensíveis que visam apenas proteger um espaço vital para a conservação da espécie.

Mas o Centro de Recuperação do Lobo-Ibérico não é apenas um espaço para vir tentar observar os animais em estado selvagem. Existe a possibilidade de “adoptar” os lobos residentes no espaço de forma simbólica, com uma ajuda económica e a possibilidade de um contacto mais estável com o centro e os seus animais através de visitas. Uma ótima forma de se responsabilizar por um pedaço do nosso meio natural em perigo.

E, ainda, os mais pequenos da casa terão a possibilidade de celebrar no centro o seu evento de aniversário, com uma festa temática centrada na misteriosa figura do lobo. A possibilidade de derrubar mitos e falsas crenças e aprender coisas novas sobre um dos mamíferos que nos cativa como espécie desde sempre. Representam, ao fim e ao cabo, o lado selvagem, aquele caminho que nós também, um dia afastado, percorremos.