O Museu do Brinquedo Português de Ponte de Lima tem milhares de peças que retratam a história da evolução dos brinquedos produzidos no nosso país ao longo de mais de 100 anos. Tem um pouco de tudo, desde peças de lata movidas a corda até um delicioso modelo de linhas de comboios, mostrando que a magia destas criações pode resistir ao tempo e à evolução da tecnologia. Para alguns pais é um saudoso regresso à infância, para outros é um contacto com os brinquedos dos nossos avós, mas para as crianças é sempre uma visita mágica que, apesar dos anos que passam, elas continuam a entender e a apreciar.

A visita ao museu organiza-se de forma mais ou menos cronológica e acaba por funcionar um pouco como uma faceta da História do nosso país nos últimos 100 anos, através da memória dos brinquedos fabricados em Portugal até 1986, ano da adesão à Comunidade Económica Europeia. Ao longo das suas salas fazemos uma viagem desde o final do séc. XIX, revisitamos os últimos anos da monarquia, o colonialismo português e a evolução dos próprios objetos que estes brinquedos imitam, desde as carroças movidas por bois até aos clássicos táxis pretos e verdes.

Memória de outras infâncias

O responsável por muito do que aqui está é Carlos Anjos, um dos maiores colecionadores portugueses que, ao longo dos últimos 30, conseguiu reunir mais de 30.000 exemplares dos quais foram escolhidos cerca de 2.000 representantes mais significativos. Assim, as crianças vão poder descobrir objetos que, mais do que o tema, diferenciam-se pelos métodos de produção e matérias primas utilizadas: era o tempo em que as bonecas eram feitas de pasta de papel, os piões eram orgulhosamente em madeira e os carros eram feitos de lata. Mas, com uma coleção que se estende por todo o século XX, vemos também a evolução da indústria, a introdução do PVC e produção cada vez mais em série e mecanizada, ao mesmo tempo que vemos velhas empresas a desaparecerem e a serem substituídas por novos nomes.

Apesar do retorno a que assistimos na última década aos jogos de tabuleiro, a verdade é que já não são a primeira opção quando se fala de uma tarde de entretenimento para a família toda, mas estão aqui curiosos exemplos de quando os hábitos eram diferentes como é o caso de um dos primeiros exemplares do Monopólio em português. Por outro lado, um hobby que há muito tempo que deixou de ser um brinquedo de crianças, como é o caso do modelismo de comboios, é mostrado aqui com a espetacularidade suficiente para maravilhar qualquer um. Hoje em dia já não é nada comum vermos um modelo com a dimensão que o Museu do Brinquedo nos apresenta.

Museu do Brinquedo Nacional

Parte muito importante do conceito do museu é a exposição de peças exclusivamente portuguesas, apesar de haver algumas estrangeira para efeitos de comparação, dando-se particular destaque a um conjunto que reúne quase 200 marcas nacionais que, se não fosse este espólio, seriam facilmente esquecidas. Quem diria que os já desaparecidos Armazéns Grandella foram fabricantes de brinquedos no princípio do século XX? Carlos Anjos sabia-o e até nos apresenta aqui um exemplar de um cavalo produzido pela marca em pasta em papel.

Apesar de existirem pequenos produtores que continuam a manter alguns destes brinquedos em produção para venda a um público que procura objetos vintage para coleção, a produção industrial já terminou e não são as crianças que principalmente os procuram. Mas, comprovámos presencialmente, não deixam de se maravilhar e sorrir sem ponta de desdém na presença de objectos que nem imaginavam que existiam. Os exércitos de figurinhas de chumbo, os aviões em plásticos que já começaram a perder a cor ou os movimentos de muitas destas peças movidas a corda, continuam a surpreender, às vezes pela sua ingenuidade e outras vezes pelo seu engenho.

A visita ao Museu do Brinquedo Português não é um programa só para os mais pequenos. É mesmo para ser feito em família, enquanto pais e filhos trocam histórias e impressões sobre todas estas peças. Os mais pequenos vão conseguir entender como brincavam as crianças de antigamente e, se calhar pela primeira vez, vão perceber que também nós, os seus pais, tivemos uma infância!