Manoel de Oliveira, coração de motor

25 Fevereiro | 2016 | Goodyear

Manoel Oliveira não foi apenas um cineasta talentoso e centenário. Foi também um apaixonado piloto que conheceu o sucesso no motor.

É com rara frequência que aparecem na história os génios multidisciplinares que abrangem várias escolas da arte, da ciência ou de quaisquer esferas do saber. Com ainda menor frequência aparecem génios assim que tenham, entre as suas preocupações existenciais, o motor. Manoel de Oliveira foi um membro dessa espécie escassa de mais.

Pois o grande e centenário cineasta português, falecido no ano passado com uma vida que tinha ultrapassado amplamente o século, foi antes de tudo um piloto de corridas e um apaixonado pela sinfonia, forte e profunda, do motor que devorava quilómetros na estrada. Não é por acaso que ostentava, no momento da sua morte, a honra de ser o nono sócio do Automóvel Clube de Portugal.

Dizem que foi por influência do seu irmão, Casimiro, que Manoel chegou ao mundo do motor como piloto, onde durante cinco anos competiu em diversas provas com sucesso notável. Entre 1935 e 1940 atingiu um segundo lugar no V Circuito Internacional de Vila Real ao volante de um BMW, o 4º em Ford V8 Especial no mesmo circuito em 1937, e no mesmo mano mais uma vitória no Circuito Internacional do Estoril com um Ford V8 Especial e vencendo Edward Rayson em lide apertada. Na outra banda do Atlântico, Oliveira conquistou o 3º lugar no pódio do IV Grande Prémio da Cidade de Rio de Janeiro, no lendário circuito da Gávea em 1938, mais uma vez aos comandos do Ford V8 Especial.

Manoel de Oliveira

Foi nesta altura que de Oliveira aprofundou no seu labor como cineasta, dirigindo o documentário “Já se fabricam automóveis em Portugal”, que incluía a aparição de Eduardo Ferreirinha, o artífice por trás do seu sucesso: construtor dos carros onde Manoel tinha competido. Dezenas de filmes seguiram-se numa sucessão não interrompida até a morte deste piloto que realizava filmes ou cineasta que conduzia bólides. A ponto ficavam os dois caminhos tão confundidos que, uns anos antes de morrer, de Oliveira ainda assistia aos eventos automóvel que podia e, em junho de 2010, na apresentação do novo Aston Martin Rapide na Avenida da Boavista, o realizador pediu para ouvir o motor da carro e depois comparou a evolução das viaturas com a que por sua vez o cinema tinha experimentado desde a sua juventude.

Infelizmente, se calhar pela proximidade histórica de Manoel de Oliveira, ainda não existe qualquer museu ou rota dignas para conhecer as viagens e a figura do mestre. No Porto, a Casa projetada por Eduardo Souto de Moura esteve durante 12 anos inutilizada e recentemente foi vendida por 1,58 milhões sem que até hoje seja conhecido o destino final do edifício. Seria bom termos, finalmente, um local que recolha o legado do cineasta e lembre às novas gerações que o motor foi, também, uma fonte de inspiração para ele. Se calhar assim poderemos visitar depois as ruas da sua extinta freguesia de Cedofeita natal, aproximar-nos da Avenida de Boavista e percorrer a cidade sentindo o eco de um motor e um velho projetor que desvenda, num ecrã branco, a rica história de um homem prendido entre duas paixões que partilhamos completamente, até o fundo.

Good Year Kilometros que cuentan