Penedono, Sernancelhe e a memória medieval da Beira

3 Fevereiro | 2017 | Goodyear

Onde a Beira se detém para deixar passar o Douro parece que até o tempo parou. Venha com a Goodyear conhecer o passado medieval de Penedono e Sernancelhe.

A Serra da Lapa é cenário para contos e lendas que, desde a alvorada dos tempos, dão à Beira uma aura mística e mágica, com bruxas, cavaleiros, aparições e lagartos gigantes a misturarem-se intimamente com a História, para construirem um novelo que ninguém quer (ou sabe) desenvencilhar. Penedono e Sernancelhe foram testemunhas e não esquecem os tempos medievais que ainda guardam no granito e, nesta linha onde a Beira se despede e começa o Douro, são garantia que a memória continua viva. Venha com a Goodyear passar um fim de semana à descoberta de uma Beira Medieval! 

Chegar hoje a esta zona da Beira é relativamente fácil e nós decidimos fazer o caminho através do IP5, saindo em Viseu e seguindo por Sátão e Aguiar da Beira, tendo a N229 por companhia. O nosso destino é a Casa da Picoila, em Granja, uma antiga quinta transformada em espaço de turismo rural. Primorosamente decorada e modernizada, é uma opção tanto para um fim de semana de descanso como para servir de base para longos passeios de carro para norte, na direcção do Douro e São João da Pesqueira, ou para sul, como era o nosso caso.

Primeira paragem: Penedono

Esta vila é um daqueles casos clássicos nas nossas terras cujo nascimento se perde na memória. As antas e dólmens espalhados pela região dizem-nos que o Homem vive aqui desde, pelo menos, o Neolítico, tendo conhecido romanos, povos bárbaros e mouros, até que no século XII fica definitivamente no controlo da coroa portuguesa e, com a forma como foi preservada e hoje se apresenta, parece que “foi ontem”.

A atmosfera que se vive pelas ruas de Penedono, não é exagero nenhum dizê-lo, leva-nos imediatamente para tempos medievais. Não temos a ilusão de achar que naquela época a vila apresentava-se assim, já que todos aprendemos na escola o quão insalubres e caóticos eram os centros urbanos da altura, mas porque é assim que a preferimos imaginar: bem cuidada e acolhedora, convidativa para uma noite à lareira com uma malga de vinho. Mas adiante… O castelo ergue-se desafiante à nossa espera.

“Na Beira vivia um magriço num castelo”

“Na Beira vivia um magriço num castelo”

O estado de conservação do Castelo de Penedono esconde os séculos em que esteve ao abandono, tendo sido só recuperado e restaurado já no século XX, sendo agora um importante e muito curioso exemplo das fortificações construídas ainda antes da fundação de Portugal. Apesar disso, já não resta muito do seu traço original e a arquitectura românica deverá ser resultado de obras do século XIV. Não vamos fingir que entendemos todas as suas características singulares, que os especialistas dizem-nos que são muitas, mas todo o enquadramento com a paisagem, a forma bruta como a pedra ainda mostra muitos dos pormenores originais e nos permite imaginar como eram aqueles tempos, cria uma experiência a todos os títulos única.

Outra referência desses tempos que a vila ainda celebra é a do Magriço Álvaro Gonçalves Coutinho, que terá nascido e crescido no castelo, antes de se tornar parte da elite de cavaleiros do rei D. João I. Teve depois uma vida atribulada, caindo em desgraça na corte e procurando a sua fama noutras paragens. Ficou famoso como um dos grandes cavaleiros da época, um dos “12 de Inglaterra”, e as suas justas tornaram-se tema cantado por Camões depois de, reza o mito, ter “salvo a honra de 12 damas”. A nobre fachada da casa em que viveu ainda pode ser apreciada ao lado do castelo.

Do alto de Sernancelhe

O viajante experimentado nas terras portuguesas já o sabe instintivamente, mas claro que também vai ser do alto do Castelo de Sernancelhe que encontramos a melhor vista sobre a região. Para lá chegarmos, subimos pelas ruas empedradas e por solares centenários, até chegarmos a um conjunto de jardins cuidadosamente tratados e à Porta do Sol, uma das antigas entradas para o Castelo de Sernancelhe. Depois disto ainda precisamos de subir mais uma escadaria, mas não desanime, o esforço vale a pena. Das suas ruínas, com a paisagem da Barragem do Vilar e dos pinheiros que crescem nas suas margens de um lado e o casario da vila do outro, vemos uma união entre Homem e Natureza, História e Presente, que ajuda a entender, pelo menos em parte, o misticismo destas paragens.

Sernancelhe conserva o seu património bem preservado, com uma belíssima igreja Matriz do Séc. XII, de estilo românico, que nos parece levar imediatamente para o cenário de uma “Guerra de Tronos”. Lá dentro, as tábuas pintadas, os frescos, telas e pormenores visigóticos e góticos esculpidos na pedra, são preciosos. O Pelourinho da terra fica em frente à casa dos Fraga de Azevedo, um solar histórico que pertence hoje em dia à autarquia local, com o qual forma um conjunto delicioso em que o cenário com quase 500 anos ganha nova vida. Na subida ao castelo já foi possível perceber e ao andarmos de carro pela região confirma-se: estas antigas casas de família, cujos exemplos variam entre o cuidadosamente preservado e o abandono, são as recordações do tempo em que era à sua volta que se exercia a maioria da actividade agrícola da região.

E ainda…

Todos os anos Penedono tem uma Feira Medieval no princípio de Julho e a região volta a celebrar em finais de Outubro, quando se colhe aquela que é uma das melhores castanhas portuguesas, mas se vier até à zona noutra altura do ano, não faltarão pontos de interesse para visitar. Vila Nova de Foz Côa fica a cerca de 40 quilómetros e é uma visão inesquecível sobre o Douro. Também sobre o rio, o Pinhão é outro destino famoso e igualmente belo. Se seguir na direção da fronteira, não perca a oportunidade de (re)descobrir Almeida e Figueira de Castelo Rodrigo ou até dar um salto à raia espanhola.

Good Year Kilometros que cuentan