À descoberta da inspiração dos escritores do Norte
25 Maio | 2017 | Goodyear
Conhece as paisagens que inspiraram muitos dos grandes escritores do norte? Os cenários deste magnífico país em que vivemos são sempre um convite para pegar no carro e partir à descoberta, mas são também uma fonte de inspiração para todos os grandes nomes da literatura portuguesa. O turismo em torno da natureza, gastronomia e do nosso património monumental há muito que motiva muitos e bons passeios mas, depois de explorado este filão, tanto turistas como agentes turísticos procuram incessantemente a próxima justificação para nos fazer regressar à estrada. Venha connosco à descoberta dos locais de nascimento de alguns dos mais conhecidos escritores do norte.
Consciente do cada vez maior interesse que o turismo literário desperta em nacionais e estrangeiros, a Direção Regional de Cultura do Norte reuniu uma série dos seus espaços dedicados aos autores nacionais e desenvolveu o projeto Escritores a Norte, um conjunto de destinos, rotas e materiais com o objetivo de dinamizar o território ao mesmo tempo que educa os visitantes.
As unidades principais desta rede são as casas-museu e coleções associadas, estando incluídos nomes fundamentais da nossa literatura como Miguel Torga, José Régio, Camilo Castelo-Branco, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Eça de Queirós e Guerra Junqueiro, mas o passeio não se resume à visita a exposições. Ao andarmos na estrada, a saltitar entre casas-museu, encontramos também as paisagens que marcaram os imaginários destes autores, os montes que seduziram Torga ou a Tormes que foi inspiração para Queiroz. Conheça de seguida os nossos destaques e aventure-se na condução à descoberta dos roteiros das letras nortenhas.
Casa de Camilo, Seide
Foi em São Miguel de Seide que Camilo Castelo-Branco passou grande parte das últimas 3 décadas da sua vida, escreveu a maioria das suas obras e onde se suicidou em 1890. A mansão que ocupou com Ana Plácido, companheira e esposa nos últimos dois anos de vida, foi já alvo de várias recuperações, remodelações e expansões, tendo a última intervenção resultado num espaço moderno mas respeitoso com a assinatura de Siza Vieira. Podemos ver aqui mobiliário que pertenceu a Camilo Castelo Branco, utensílios de uso pessoal, mais de 5000 volumes de bibliografia do escritor e sobre ele, 787 obras pertencentes à sua biblioteca particular, cerca de 1900 cartas, milhares de recortes de imprensa, periódicos em que colaborou, esculturas, pinturas e provas fotográficas…
Casa de Miguel Torga, São Martinho de Anta
São Martinho de Anta é o local onde nasceu e repousa Adolfo Correia da Rocha, homem que nos habituamos a chamar Miguel Torga, e a casa de nascimento a que volta tantas vezes ao longo da sua vida e obra é hoje um espaço de memória mas não é o único nesta terra do concelho de Sabrosa. Nesta antiga casa de arquitetura popular há três núcleos expositivos, podemos visitar a principal sala da casa onde se conserva todo o mobiliário e decoração utilizados pelo autor e o jardim. No verão de 2016 foi inaugurado o Espaço Miguel Torga, resultado de um projecto do multi-premiado Eduardo Souto Moura, que celebra a memória do escritor. O edifício é uma moderna estrutura que, apesar do betão armado, integra-se perfeitamente na paisagem e encheria o escritor de orgulho, não por ser a si dedicado, mas por salientar tão bem a beleza da sua terra.
Casa Museu Guerra Junqueiro, Porto
A coleção deste espaço dedicado a Guerra Junqueiro resulta da doação da família do poeta e reúne peças de arte nacional e estrangeira entre o séc. XV e XIX. Está instalado num edifício histórico do séc. XVIII e, ao contrário de outros espaços da mesma rede em que o principal enfoque é a obra literária dos autores que são o tema de cada exposição, aqui temos uma perspetiva um pouco diferente sobre a personalidade de Guerra Junqueiro, como a do homem que viajava, almoçava com imperadores e tinha uma fixação por antiguidades que o levava a calcorrear toda a raia em busca de bons negócios.
Fundação Aquilino Ribeiro, Soutosa
Aos 10 anos de idade, Aquilino Ribeiro mudou-se para uma pequena aldeia de Moimenta da Beira, local que mais tarde aparece como refúgio ao longo da sua vida. Em Soutosa há hoje uma Casa-Museu dedicada pela família ao escritor e, dispersos pela quinta, encontramos ainda uma biblioteca com cerca de 8000 volumes, a Casa do Aldeão que é uma reconstituição fiel de um espaço doméstico de finais do século XIX, um extenso Jardim, um pátio interior e anexos de lavoura. Aqui estão expostos centenas de objetos pessoais do escritor, entre, livros, postais e fotografias. As Memórias de Aquilino Ribeiro estão guardadas na casa onde escreveu algumas das suas obras e a visita a este espaço ajudará a compreender o mundo retratado pelo mestre e, quem sabe, despertar a curiosidade de ler ou reler algumas das suas obras.
Centro de Documentação José Régio
Em Vila do Conde a casa que já foi morada de José Régio é hoje um espaço que nos quer mostrar uma parte da intimidade do autor, mantendo-se com as áreas funcionais que ele habitava quase intocadas. O único espaço criado após a morte do escritor em 1969 foi a sala de pintura moderna, mas abundam as peças de arte de origem popular e sacra que colecionou ao longo da sua vida. O escritório, o quarto, local onde faleceu, a sala de jantar e o jardim serão as áreas fundamentais desta casa, que refletem fielmente a personalidade desta grande figura das letras portuguesas do século XX. Vale a pena também um passeio demorado pelo jardim que envolve a casa e pelo mirante que o pai do escritor mandou construir em 1913.
Fundação Eça de Queiroz, Tormes
Em “A Cidade e as Serrras”, as ruínas da velha casa de Tormes são relatadas como um símbolo da ação voraz dos séculos mas a verdade é que está de pé e de boa saúde. Aqui, perto de Baião, na companhia dos vales cavados pelo Douro existe hoje um importante núcleo museológico dedicado à vida e obra de Eça de Queiroz, com um programa de atividades muito diversificado ao longo do ano, com temas que vão da gastronomia queirosiana a concertos. Com uma excelente panorâmica sobre o Douro, além do seu espólio expositivo, tem ainda uma adega onde se fabrica o vinho regional e disponibiliza duas casas para turismo rural.