Rota Vicentina, o paraíso na margem do mar

2 Maio | 2016 | Goodyear

Conheça com a Goodyear um dos caminhos históricos que os peregrinos percorrem desde tempos imemoriais. Quais são as joias da grande rota do sudoeste? Desvendamo-las para si…

Há quem diga que é graças aos caminhos que os países são construídos: a viagem, a possibilidade de gentes de toda a parte interagirem e partilharem um copo de vinho enquanto o sol cai, a riqueza que fornece o conhecimento que arrecadamos cada vez que deixamos atrás a porta da nossa casa, é um tesouro que mal começamos a valorar o dia em que poisamos nele a vista, quando a bagagem já avulta. A memória humana é frágil, volúvel e fragmentária, mas com o passar do tempo ficamos surpreendidos quando, aleatoriamente, assaltam as nossas lembranças pedaços soltos de itinerários e percursos que fizemos há muito tempo atrás. Aquela viagem por ribeiros encantados à sombra das bétulas ou esses dias ardentes sob o sol do verão que banhava praias quase brancas.

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    A Rota Vicentina é uma daquelas que se cimentam sobre a história mais afastada e por sua vez contribuem para o desenvolvimento de um património natural, cultural e histórico com os pés no passado e o olhar a fitar firmemente o futuro. Conformada por duas rotas distintas, o trilho dos pescadores e o tradicional Caminho Histórico, a Rota Vicentina estende-se por mais de 200 quilómetros que, embora sejam um percurso pedestre, atravessa locais, povoações e paisagens que podem também ser conhecidas de carro. Porque a rota a caminhar pode demorar até 11 dias para ser completada, e nem sempre dispomos de tanto tampo…

    Santiago do Cacém, a cidade detida no tempo

    A Rota Vicentina arranca nesta cidade ligada ademais a outro caminho histórico, o de Santiago, na Galiza. Ainda conserva a fortuna de um castelo que a domina no topo. A rica historia local pode ser pesquisada no nome: Santiago, que faz referência à Ordem de cavaleiros homónima, e Cacém, evolução do árabe Kassim, governador. O Castelo, classificado há mais de cem anos como Monumento Nacional, é uma construção impressionante com dez torres que reforçam a alongada muralha. A descoberta do Castelo deve ser acompanhada por uma visita à zona antiga para complementar este mergulho medieval.

    Nas proximidades da cidade podemos continuar a nossa pesquisa histórica nas ruínas da cidade romana de Miróbriga. Mais de dois quilómetros de restos onde adivinharmos o desenho das velhas casas e ruas e até mesmo hipódromos e termas.

    Se continuarmos a viagem até a Santo André, uma das freguesias do Concelho, descobriremos uma lindíssima lagoa que dá fama ao local. A formação natural é uma zona indicada para lazer em família, a desfrutar do sol no areal e da possibilidade de praticar desportos náuticos de todo o tipo. Também é conveniente degustar o produto local, os peixes apanhados segundo as artes piscatórias tradicionais.

    Castelo Santiago Cacem

    Pelo Vale Seco até Cercal do Alentejo

    A paisagem muda nesta zona para habituar os nossos olhos ao clima mediterrâneo mais puro. As chuvas concentram-se em poucos meses por ano e  a vegetação, que parece árida à primeira vista, oculta realmente um mosaico de habitats de florestas e campos abertos.

    Cercal do Alentejo, integrante ainda do concelho de Santiago do Cacém, possui um interessante legado patrimonial nos seus edifícios históricos como a Casa dos Azulejos Verdes, a Ermida da Fonte Santa ou a Ponte Romana. Não hesite em experimentar especialidades alentejanas como as migas ou a açorda de bacalhau, bem como o insubstituível gaspacho.

    Para o sul, conforme formos chegando perto de Porto Covo, voltamos a habituar-nos a uma paisagem de campina, linda o suficiente para esquecermos as partes mais áridas. À nossa volta estendem-se as quintas e as hortas, e a densidade mole dos pomares. Detenha o carro próximo da estrada e inspire o cheiro embriagador das plantas aromáticas: o alecrim, o tomilho…

    Odeceixe, um passeio pelo Portugal selvagem

    Perto do Rio Seixe encontramos a vila de Odeceixe, na encosta de uma colina já não muito afastada do mar. Terra de transição do Alentejo para o Algarve, Odeceixe foi célebre na década dos anos 70 pelo seu encanto para toda uma geração de apaixonados e adeptos da vida natural que descobriram o local muito antes do turismo. À volta da povoação, ainda hoje impera uma vida natural selvagem, livre e viçosa. No topo, o moinho de vento tradicional preside o local ainda a funcionar como nos dias antigos. E, a pouca distância para o oeste, 2 km, na foz do Seixe sinuoso, encontramos a praia bem acompanhada de restaurantes e bares para fugir do calor.

    Durante a primavera, é a melhor época para uma visita à volta de Odeceixe. As ribeiras fartas em vida selvagem escondem, nas margens, espantosos santuários de flora e fauna. As árvores conformam galerias sobre o rio a cuja sombra cresce a carqueja, o tojo ou a roselha, e encontra refúgio nos buracos o rato-de-água, um roedor parecido com o castor que também desfruta de uma agilidade proverbial na água. Estas margens são um local ideal para finalizar um longo dia de viagem com os pés no rio e o coração a navegar feliz corrente abaixo.

    Rota vicentina Sagres

    O autêntico Algarve? Alzejur

    Imagine uma vila agrícola tradicional deitada nas encostas à volta do rio. A campina próxima foi domesticada por dúzias de gerações que trabalharam os campos e moraram neste local. Pomares, sebes, compridas hortas que oferecem já os frutos daquelas tarefas, até onde a vista alcança. Alzejur é um regalo para os olhos dos apaixonados pela história.

    O castelo, construção mourisca do século X, vigiava o antigo porto fluvial por onde comerciava a povoação antigamente. A sua defesa foi tão efetiva que podemos dizer que foi quase a última fortaleza a cair. As suas duas torres oferecem umas panorâmicas sobre a Costa Vicentina que dificilmente conseguirá encontrar noutra parte.

    No Museu Municipal, na antiga câmara novecentista, podemos encontrar a melhor vitrina do mundo tradicional da zona: vestígios arqueológicos, uma completa secção etnográfica e até mesmo a reconstituição de uma casa típica da zona, da forma como eram antigamente. Perto de Alzejur encontramos Ribât, uma antiga fortaleza mourisca parecida em origem com o castelo local, construída no século XII e que tem a honra de ser uma das maiores do seu tipo na península. Centro importante do ponto de vista político e religioso na altura da sua construção, as escavações na zona desvendaram parte desse rasto: mesquitas, minaretes e inclusive um muro de orações orientado para a Meca.

    Cabo de São Vicente

    A Rota Vicentina era o caminho das peregrinações na honra de São Vicente que visitavam o Vale Santo. Aqui, no ponto mais sudoeste do continente, atravessamos a Reserva Biogenética de Sagres, um autêntico santuário para a fauna e flora locais, representadas na sua máxima expressão pela profusão de espécies de monte baixo e aves migratórias.

    É um ponto especialmente interessante para os turistas durante o outono. As altas falésias da região permitem a existência de ninhos de aves de um milheiro de espécies, que em números às vezes de 5000 indivíduos empreendem a viagem para o sul quando o inverno chega à velha Europa. O olho mais atento mesmo consegue, com um bocadinho de sorte, descobrir o voo majestoso da águia real ou da águia imperial.

    Uma das vistas emblemáticas da Costa Vicentina, o Miradouro da Torre de Aspa, não fica longe. Uma zona onde as falésias monumentais colocam uma beleza de rocha íngreme na paisagem, uma panorâmica imensa do mar e a terra surpreende os nossos olhos, que se detêm em cada onda, em cada gaivota e em cada barquinho ao fundo. Tanto se a nossa chegada for a pé como de carro, sentiremos que a rota valeu muito a pena, o cansaço, o combustível e a vontade. Espere à noite, porque é durante o pôr-do-sol que acontece um dos grandes fenómenos da Rota: o espetáculo do Atlântico a devorar o Sol entre o aplauso unânime das pessoas que assistem o processo no cabo, como dúzias de gerações antigamente.

    Good Year Kilometros que cuentan