Murça tem o mais barato dos melhores vinhos do mundo

29 Setembro | 2016 | Goodyear

O Porca de Murça é o mais barato de entre os 50 melhores vinhos do mundo e a Goodyear foi passar uns dias a Trás-os-Montes para percebermos porquê.

Com a responsabilidade de transportar simultaneamente a herança transmontana e a influência do Douro que corre aqui tão perto, Murça é terra de vinhos e azeites de excepção, culturas que emprestam novas e belas matizes à paisagem, à medida do ciclo da colheita. Os especialistas dizem que se produz na região o 39º melhor vinho do mundo e o seu sucesso no mercado assim o parece provar, mas o Porca de Murça é só um dos exemplos do que melhor aqui se produz e impõe-se uma visita à sub-região de Cima Corgo.

Depois de uma visita que aqui fizemos a seguir às colheitas de 2015, não nos cansamos de a recomendar a todos os enófilos com que nos cruzamos: dos vales onde corre o rio Tinhela ao alto dos montes que lhe servem de anfiteatro, em Murça encontramos uma terra onde o vinho é o complemento ideal a uma paisagem arrebatadora em tons de ouro e cobre. Daqui até ao Pinhão há uma sucessão de pequenos produtores, uma realidade diferente da que encontramos ao longo do Douro, unidos em adegas cooperativas para trabalharem os campos tradicionalmente dispostos em socalcos.

Memórias milenares de vinho e azeite

Povoada pelos romanos, depois pelos árabes e com um foral atribuído por D. Sancho II, a presença humana nestas terras vai longa e indelével. São sinais disso a via imperial que ainda encontramos no município ou a ponte romana que antecede a vila de Murça. Terra de longas tradições, tem na sua Porca uma das mais famosas imagens nacionais e o leitmotif para uma marca que todos os portugueses conhecem.

Diz-se que a Porca de Murça que enfeita a Praça 25 de Abril recorda a lenda de um animal selvagem que andava pelos campos vizinhos a destruir colheitas e a matar pequenos animais das quintas. Depois de muito esforço e de a povoação reunir-se em peso para lhe tratar da saúde, os homens da terra prestaram uma homenagem à tenacidade e resistência da bicha, edificando-lhe uma estátua. A verdade é que a origem da estátua remonta à proto-história e, apesar da lenda local, seria um altar de devoção para ritos de fertilidade. Durante as lutas políticas do Séx XIX a porca era pintada de verde quando ganhava o Partido Regenerador ou de vermelho se os vencedores fossem Progressistas. Chegados a 1910, a população pintou-a de ambas as cores.

“Porca de Murça” entre os melhores vinhos do mundo

Muitos e muitos séculos depois, fomos passar uns dias à mais antiga região demarcada do Mundo, o Alto Douro, onde o Porca de Murça é a marca líder depois de 88 anos de História. Chega às lojas por pouco mais de 4€/lt e é uma das ofertas mais económicas que pode encontrar nas prateleiras dos supermercados, mas isso não é o mesmo que dizer que é um vinho comum. Numa lista dos 100 melhores de 2015, a Wine Spectator coloca o Porca de Murça de 2013 na 39ª posição e destaca o seu carácter “tenso e vigoroso”. É o vinho mais barato em toda a lista, mas isso diz muito mais sobre a riqueza destas terras do que sobre a sua qualidade.

O vinho da Real Companhia Velha não é o único néctar a nascer nesta região. A Adega Cooperativa local produz o excelente Caves de Murça ou o mais comum Adega de Murça, assim como frisantes branco e rosé, leves e aromáticos, e espumantes. O Monte de São Sebastião é uma quinta com 4ha de produção, que aproveita a altitude para produzir óptimos vinhos brancos, ao lado dos tintos e espumantes da marca. Se seguir o nosso conselho e vier em visita à sub-região de Cima Corgo, aproveite esta quinta como local de pernoita e acorde com vista para a Serra da Garraia antes de participar numa das visitas guiadas à vinha, olival e amendoal.

Serra de Bornes

Frutos de oliveiras e castanheiros

Ao lado do vinhedo, a tradição local faz crescer um azeite que está entre os melhores do país. Todo o azeite genuíno da zona tem o selo D.O.C. e há uma forte aposta na qualidade, em detrimento da quantidade. O Azeite Porca de Murça foi galardoado com 6 medalhas de Ouro, duas de Prata e duas de Bronze, na “Los Angeles International Extra Virgin Olive Oil Competition”, evidências que atestam a qualidade do produto. Por outro lado, as feiras da região são uma belíssima forma de contactar os produtores artesanais: Candedo, todos os dias 4, Carva, aos dias 9, Jou a 16 e 27 e, finalmente, Murça a 13 e 28 de todos os meses.

É nestas feiras que facilmente encontrará outros exemplares da produção local: o pão artesanal é excelente, os enchidos são feitos com arte e as compotas com amor. Além disso, se andar pela região durante o final de Outubro e Novembro, não se coíba de carregar o carro com as belíssimas castanhas de trás-os montes.

Para os gulosos, as cavacas, queijadas (bastante diferentes das que conhecemos no resto do país) e toucinho do céu, são recordações conventuais que emprestam açúcar à gastronomia regional e continuam a ser feitas à antiga, em fornos que queimam giestas e carquejas. Os especialistas de Murça estão na cozinha da Casa das Queijadas que, além do bolo que dá o nome à casa, são exímios na produção de biscoitos de bagaço, aguardente e laranja e umas tortas que desaparecem da mesa num piscar de olhos.

E andamos ainda por…

Mesmo que pareça, a nossa estadia em Murça não se resumiu a comer e beber. A vila é bastante convidativa a passeios para conhecermos os solares das antigas famílias de ascendência nobre como os Morgadinhos e Condes de Murça ou, mais tarde, dos latifundiários mais endinheirados. Ainda aqui está o convento das freiras que inventaram o afamado toucinho do céu, assim como a Igreja Matriz e a Capela da Misericórdia, para quem vier em busca de património monumental. Na zona circundante, são de visita obrigatória as Curvas do Cadaval na estrada para Fiolhoso, com um miradouro sobre o belíssimo panorama em volta, assim como o Monte de São Domingos e o Alto do Pópulo.

Diz-se que esta zona, com Trás-os-Montes às costas e o Douro à mesa, é um misto da “Terra Quente” e da “Terra Fria”. Quanto a nós, a distinção perde relevo: este vinho aquece-nos a alma até ao pino do agreste Inverno que aqui vai nascer dentro de alguns meses e, quando tudo o resto falta para sobreviver à estação, as gentes de Murça enchem a mesa com o que melhor encontraram para comer e beber.

Good Year Kilometros que cuentan