Beja, janela para o Baixo Alentejo

23 Janeiro | 2017 | Goodyear

De Ferreira a Aljustrel, a Goodyear foi à descoberta da planície alentejana, com Beja no epicentro. Os romanos já andaram por aqui, mas tinham migas?

Para uma região com tão distinto passado histórico, Beja surpreende-nos com a sua pose simpática e despretensiosa de cidade do interior. Ligeiramente mais alta do que a vizinhança, observa calmamente a planície que se deita a seus pés e fica no centro de uma confluência de estradas que nos levam a algumas das povoações mais pitorescas do Baixo Alentejo e, talvez por isso, mantém o seu ar pachorrento de quem não se preocupa com o tempo que passa. A Goodyear apontou a bússola para Beja e foi descobrir Quilómetros que Contar na planície. 

Beja foi o palco da paz assinada entre lusitanos e romanos, facto que lhe valeu na época o nome de Pax Julia, e recebeu depois visigodos e mouros, tendo crescido no domínio destes últimos para um dos mais importantes centros intelectuais da época. Hoje é a senhora do Baixo Alentejo, erguendo-se no alto de uma colina, mas não é a única dama destas paragens… Começamos a nossa rota por…

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    Ferreira do Alentejo

    Toda a região foi testemunha do embate de civilizações, e Ferreira terá tido o nome original de Singa, e sido a mais importante povoação no tempo dos romanos. Passou também pelas mãos da Ordem da Sant’iago, que terá construído o castelo, hoje já desaparecido, e se ocupou de defender a localidade até aos mouros saírem definitivamente do território que, entretanto, se estava a definir como Portugal. A Capela do Calvário ou Santa Maria Madalena é um curioso testemunho desses tempos e recomendamos uma visita para entender este edifício invulgar: é circular, com uma abóbada, e na sua redoma externa tem vários pedregulhos irregulares que diz-se evocarem o apedrejamento de Jesus no Calvário. No outro extremo da vila, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição é uma delícia sublinhada a azul e tem um dos mais importantes painéis de azulejos da Península.

    Alfundão

    Já deixou de ser sede de freguesia e tem vindo a perder uma importante fatia da população, mas Alfundão tem um passado bem longínquo, tendo sido uma povoação romana da qual ainda poderá sobreviver uma ponte e os restos de um forno. A verdade é que a ponte poderá não ter sido realmente edificada durante a presença dos romanos, mas usa pedras dos edifícios que estes deixaram.

    Castelo de Beja
    Castelo de Beja

    Alvito

    Esta é uma vila repleta de traços manuelinos, do Morabito de Santa Luzia à Ermida de S. Sebastião, passando pelo ar severo da Igreja Matriz com as suas ameias e corochéus. Contudo, cedo deixou de ter uma intenção defensiva, como mostra o Castelo que se assemelha mais a um solar do que a uma fortificação. Hoje em dia é uma Pousada e vale a pena a visita ao seu pátio e a vista da antiga torre de menagem. A Igreja Matriz é outro ponto de interesse, mas deixe-se perder no caminho pelas ruas da vila, na companhia das modestas casas brancas, algumas decoradas com belos portais de pedra ao estilo dos séculos XVI e XVII.

    Albergaria dos Fusos

    A poucos minutos de carro do Alvito e no alto de uma pequena elevação, Albergaria dos Fusos tem vista para a Barragem do Alvito onde se pratica pesca e fazem-se agradáveis passeios pelas margens. Este pequeno desvio não nos ajuda muito a chegar ao destino, mas estava na hora de esticarmos um pouco as pernas e ficar um pouco só na companhia do som do vento e dos pássaros. O Alentejo também é isto.

    Vila Ruiva

    Ao prosseguirmos no sentido de Cuba, passamos por Vila Ruiva, onde ainda sobrevive uma ponte romana com 120 metros de comprimento mas já não há sinais do castelo original. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, estilo manuelino/gótico, é o ponto de visão sobre o sopé do monte.

    Cuba
    Igreja Matriz de Cuba

    Cuba

    Esta curiosa vila, de construção bem mais recente do que as suas vizinhas, tem o Convento e a Igreja do Carmo, onde foi instalado o antigo Hospital no Paço do Duque de Beja. Chegou a ter 12 igrejas, das quais só sobrevivem 5, mas tem ainda muitos pontos curiosos para ocupar uma longa visita à terra. As ruas da Mouraria e do Carmo guardam alguns dos vestígios mais antigos da localidade, o largo da Igreja é de visita obrigatória (como é sempre o caso nas terras alentejanas) e a Adega do Arrufa é um bom exemplo das adegas da região.

    Beja

    Longe dos tempos do Alentejo empobrecido de há 100 anos, Beja cresceu e modernizou-se muito, mas tem um centro histórico muito bem preservado, acessível e agradável para um forasteiro que procura apenas um breve contacto com a cidade ou para os verdadeiros viajantes que queiram viver a cidade de forma mais profunda. Desta vez, estamos apenas de passagem e guardaremos o relato de uma escapadela de fim de semana em Beja lá mais para a Primavera. Para esta vista de apenas algumas horas, deixamos de lado o Castelo (já vimos alguns hoje) ou o Museu da Rainha Dona Leonor (que precisa de mais atenção do que aquela que lhe podemos dedicar). Em vez disso, atacamos já a cozinha. Não vamos repetir pela enésima vez o quanto gostamos da gastronomia alentejana, por isso passamos já a enunciar o que se come bem aqui pela cidade: migas de carne de porco, açorda de coentros, gaspacho, vinagrada, ensopado de borrego, pesos pesados que não podem ser dominados no pino do verão mas que, nesta altura, aquecem a alma. Papos de anjo, morgados e fios de ovos para os amantes da doçaria conventual mas, já derreados, optámos por mais uma fatia de queijo de Serpa e fizemo-nos ao caminho antes que o espírito da sesta se instalasse.

    Pisões

    Em Penedo Gordo, cerca de 10 quilómetros a sul de Beja na estrada que segue para Aljustrel, fica a Vila Romana de Pisões. Descoberta no final dos anos 60, é um curioso exemplar deste tipo de construções ao apresentar uma arquitectura muito requintada, invulgar nas províncias de Roma. Na última vez que estivemos na zona estava temporariamente fechada, mas podem ser marcadas visitas através da Direcção Regional de Cultura do Alentejo.

    Aljustrel

    Prosseguindo pela N18, estrada que não conhece muito mais sentidos do que “sempre em frente”, passamos pela barragem do Roxo e, depois de Ervidel, chegamos a Aljustrel. As pirites que “nascem” deste solo já prendem aqui o Homem pelo menos desde o séc. I a.c. e, desde então que foi importante centro mineiro da região, encontrando-se aqui um importante espólio de arqueologia industrial. Cresceu substancialmente durante a ocupação romana, foi bastião mouro até à Reconquista, altura em que é ocupada pela Ordem de Sant’iago da Espada. Alguns dos edifícios da exploração mineira foram recuperados como espaços museológicos mas deverá informar-se com o posto de turismo local ou no Museu Municipal, para marcar a visita.

    Do alto da Senhora do Castelo, onde encontramos as últimas ruínas do velho edifício, desfruta-se um panorama que vai até Fóia, Serra do Cercal e Grândola, Serra de Portel e a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, em Serpa. A Ermida de Nossa Senhora do Castelo deverá ter sido antes uma mesquita, facto que se revela pela sua planta quadrangular, mas desde o fim do século XV que foi adaptada para os ritos cristãos.

    E ainda…

    Se quiser guardar tempo para uma passagem mais demorada pela região, Serpa é terra que vai merecer a sua atenção e, mais a sul, no Parque Natural do Vale do Guadiana, Mértola aproxima-nos dos mouros. Se rumar depois a norte, um desvio pela região do Alqueva e Monsaraz é um óptimo motivo para beber belíssimos vinhos e encontrar o maior lago da Península.

    Good Year Kilometros que cuentan