Calçada Portuguesa: caminhar sobre a imaginação

1 Novembro | 2017 | Goodyear

A Calçada Portuguesa é um dos ex-libris de Lisboa, apaixona turistas e locais e, apesar de velhinha, anda está pronta para o século XXI. Saiba porquê.

Quem convive com ela todos os dias sabe que trocamos locomoção por beleza. A Calçada Portuguesa não é dos pavimentos mais fáceis de calcorrear e, quando chove, guarda até surpresas fatais. A visão do turista incauto a escorregar nas ruas de Lisboa já é recorrente, mas será que a culpa é do material? Com obras como as que nos deixam os artistas calceteiros portugueses é um desafio manter o equilíbrio. Mas nunca as trocaríamos por nada! A Calçada a que denominamos de “portuguesa” é uma forma de arte urbana que desde há séculos ilumina as nossas ruas. Contudo, ainda tem muito a dar no novo milénio! Mostramos-lhe 5 motivos que justificam o interesse do turista do século XXI.

Já não há muitos artistas, 5 apenas em Lisboa, a praticar esta mistura de imaginação e apurado rigor. Encaixar os paralelepípedos brancos e negros é uma tarefa difícil, de grande paciência e fisicamente exigente. E, a somar-se a estas dificuldades, o chão que pisamos é coisa para a qual temos cada vez menos tempo. Em muitos locais do país, muita calçada portuguesa teria sido já abandonada se não fosse o turismo. Apesar disso, as nossas ruas, praças e avenidas seriam muito mais pobre sem elas. Em Lisboa os exemplos abundam e ficam na memória de qualquer visitante.

É reciclável e polivalente

A calçada portuguesa pode ser rapidamente levantada, recolocada e reconfigurada. Exemplos disso são as grandes reconstruções a que já assistimos na Praça da Figueira ou nas ruas do Chiado. Além disso, quando aparecem novas intervenções, é fácil de as adequar à estética da cidade. Veja-se a espiral calçada que no Largo do Chiado conduz a visão até à porta do Metro. É um pormenor que passa desapercebido a muitos visitantes, mas grande o suficiente para preencher toda a praça.

É amiga do ambiente

A fácil drenagem pelos intervalos entre as pedras da calçada, fazem desta técnica útil para a manutenção dos solos e controlo dos solos. A Baixa de Lisboa está construída sobre uma superfície bastante instável e vemos bem a reação destes solos durante as chuvas. Apesar disso o pior inimigo da calçada é o carro que continua a ser arrumado em cima dos passeios. Felizmente, muito tráfego tem sido afastado de locais como a Praça do Município, onde temos agora um quiosque e muito espaço para apreciar a vista. Em frente à câmara, as linhas geométricas da calçada “casam” com a forma ortogonal da praça e são como raios a partir da coluna central. O trabalho é da autoria de Eduardo Nery.

Recorda-nos pedaços de História

É na Praça do Império que os nossos sentido se perdem. Em frente ao Mosteiro dos Jerónimos necessitamos de um pequeno manual de História de Portugal para entender todo este cenário. Os jardins estão plenos de ícones e recantos que, construídos nos anos 40, nos levam até um país épico. Estrelas, motivos astrológicos, a esfera armilar, são algumas das ilustrações que aqui encontramos. Do outro lado da linha do comboio, a concorrer com o Tejo, encontramos o Mar Largo. Tal como no Rossio, encontramos aqui a ilustração de ondas em pedra negra tão repetida pelo mundo fora, de Copacabana a Macau.

Projeta-nos para o futuro

Se desde o tempo dos romanos que andamos a readaptar estas técnicas, não admira que artistas contemporâneos continuem a fazê-lo. A calçada portuguesa também é usada por gente como Vihls, um dos mais importantes nomes da nova geração, e outros. Este deixou um mural em Alfama, na rua de São Tomé, com uma ilustração de Amália. Mais tecnológico, o QR Code em frente à Brasileira também não destoa e mostra novos caminhos (literalmente!).

E, eis a razão principal, há coisas que não se definem pela utilidade…

… mas sim pela sensação que nos deixam. Uma cidade moderna tem que ser feita para nos sentirmos bem, mesmo que com pequenos pormenores e artifícios. Experimente fazer a Avenida da Liberdade e vai encontrar, no meio do bulício, também uma zona de paz. A partir dos Restauradores o arboredo é rematado com as ilustrações que nos sucedem debaixo dos pés ao longo de pouco mais de um quilómetro. Motivos florais, intrincados, sem razão aparente, fazem um casamento fin-de-siécle perfeito para longo passeios românticos.

Good Year Kilometros que cuentan