Cartuxa, os prazeres do vinho e a dedicação ao divino

12 Janeiro | 2017 | Goodyear

A Goodyear foi visitar o coração do Cartuxa e do Pêra-Manca, em Évora, e descobriu como é que o vinho pode ser uma ponte para o divino.

É mesmo ao lado da Quinta do Valbom que se vai buscar a inspiração para o nome de um dos mais conceituados vinhos portugueses: o Convento da Cartuxa, onde os monges ainda respeitam votos de silêncio e procuram estreitar a sua relação com o divino. Passa também por aqui um nome que aparece ao longo na nossa História e é fundamental no panteão dos néctares nacionais, o Pêra-Manca. Em Évora, o local de nascimento destes dois excelentes exemplos da arte enófila nacional, a Fundação Eugénio de Almeida tem um espaço dedicado ao enoturismo, de onde podemos partir para uma curiosa visita à História e ao processo de produção. De passagem por esta cidade Património Mundial, a Goodyear foi visitar a fundação e descobrir um pedaço do Paraíso na Terra.

A pouco mais de um par de quilómetros do centro de Évora (saia da cidade pela R. Cândido dos Reis e siga na direcção de Arraiolos, irá encontrar placas para a Adega e para o Convento), ir ao local de nascimento destes nomes míticos é quase uma obrigação para um apreciador de vinhos que se orgulhe da sua aficção, mas é também um curioso passeio por sinais da História que ainda sobrevivem. O centro de recepção de Enoturismo Cartuxa fica num antigo refeitório Jesuíta, não muito distante do Convento que ainda hoje está em operação, e vamos encontrar mais ecos de um passado que se estende até aos Descobrimentos.

Uma breve explicação: até ao Marquês de Pombal, altura em que os Jesuítas são expulsos do ensino, era aqui que habitavam os professores da Universidade de Évora, estabelecida em 1559. Com Sebastião José de Carvalho e Melo, o convento passou para o estado e, poucos anos depois, transforma-se no lagar onde se reunia a maioria da produção vinícola da região. No séc XIX a família Eugénio de Almeida adquire a propriedade e, em 1960, oferece o convento aqui existente, Santa Maria de Scala Coeli, aos Cartuxos, regressando assim uma ordem religiosa a este espaço. Os monges ainda vivem aqui na sua vida de reclusão, quebrando o seu voto de silêncio apenas aos domingos mas, mesmo ao lado, a Adega vive em permanente azáfama.

Évora

História e modernidade do Cartuxa

Depois desta breve lição de História ficamos preparados para melhor entender este ambiente: a Fundação Eugénio de Almeida mistura a concepção moderna da produção e gestão agrícola, com os sinais desse passado e espiritualidade que, inevitavelmente, acabam por resultar em magníficos vinhos. As visitas guiadas à Quinta do Valbom duram cerca de 1h30 e, por isso mesmo, são um excelente complemento para quem vem até Évora numa passagem rápida de fim de semana mas que não quer deixar de conhecer o que de melhor aqui se produz. Os nomes que hoje saem destas vinhas ou que usam esta adega como centro de estágio são de inegável qualidade: além do Cartuxa e do Pêra-Manca, o Scala Coeli, o Vinea, EA e Foral de Évora, juntam-se também à produção dos azeites EA, Alamos e Cartuxa.

De regresso à nossa visita e ao refeitório dos Jesuítas, contam-nos que era aqui o antigo centro de produção do Cartuxa até à inauguração de uma nova estrutura em Beja, onde se dá agora a maioria do processo. Contudo, aqui em Évora, este espaço passou a ser o centro de estágio e armazenamento dos vinhos da fundação, por isso, guardada em enormes pipas de madeira está aqui agora uma verdadeira caixa-forte, um Fort Knox de sonho para qualquer apreciador de vinho.

Ainda no mesmo local, estão expostos várias ferramentas históricas na produção do vinho, os antigos tonéis e as ânforas argelinas, utilizadas até aos anos 90, enquanto podemos assistir a um vídeo com a apresentação do actual processo de produção na Herdade do Pinheiro, que fica do outro lado da cidade. O contraste é assinalável, mas ajuda-nos a entender a sua evolução. Ficamos a conhecer algumas curiosidades como o facto de grande parte da colheita ser, hoje em dia, feita logo a seguir à meia-noite de forma mecânica, para que a uva seja apanhada o mais fresca possível. Mais tarde, a selecção das uvas é automatizada, com cada bago a ser analisado individualmente. É, sem sombra de dúvida, uma viagem fascinante e muito elucidativa.

Antes da degustação final (vários tipos e preços de provas, desde os 5 aos 30€ por pessoa, com queijos e compotas regionais), a passagem pelo “Corredor de Aromas” é uma curiosa visita aos segredos que dão a alma a um vinho. Muito ouvimos falar de castas e há até algumas que qualquer recém-iniciado aprende rapidamente a identificar, mas ao passarmos por este corredor podemos sentir os aromas das uvas produzidas nos terrenos da Fundação: Castelão, Trincadeira, Aragonês…

A visita termina no winebar, com esplanada no verão, e por uma passagem pela loja. É a sua hipótese de se abastecer de enchidos, pão, queijos e azeitonas, enquanto escolhe os vinhos e azeites que levará consigo para casa. Lembra-se da velha máxima que nos diz “não vá ao supermercado se estiver com fome”? Pois… aqui funciona ao contrário: durante uma hora e meia abrem-nos o apetite e largam-nos no fim num sítio onde podemos comprar todas estas delícias… Malandros! Esta gente da Cartuxa sabe mesmo qual o melhor caminho para o nosso coração.

Good Year Kilometros que cuentan