O inverno alentejano

29 Janeiro | 2016 | Goodyear

Uma época perfeita para conhecer as paisagens do sul sem se apressurar, demorando-se em cada recanto

O inverno alentejano, forte e suave como a terra que o sustenta, é uma dessas coisas que merecem serem vividas pelo menos uma vez na vida. Esses campos de planalto imensos, intermináveis, salpicados de montes baixos e pradarias em que ainda dorme a fertilidade a esperar a primavera. Aqui virão depressa os cereais, a uva e o sobreiro do qual sairá a cortiça das rolhas. Mas ainda não veio a época, e uma calma rara flutua no ar. É o momento certo para explorar o Alentejo.

A nossa rota pode começar na vila de Serpa, entre os largos territórios onde se espalham minúsculas aldeias como fotografias doutro tempo, separadas entre si por regatos nascidos nas baixas colinas, raramente acima dos 500 metros de altura sobre o nível do mar. Aqui achamos um queijo de ovelha famoso muito para além do Alentejo,  e uma muralha medieval que envolve um conjunto histórico ímpar. As casas brancas que durante o verão quase ferem os olhos são apenas uma parte da paisagem e da riqueza da vila; a própria muralha merece menção: por ela corre um aqueduto que servia para levar água da nora até ao Palácio dos Melos que se encosta aqui. Dezanove arcos de volta perfeita que desafiam o tempo neste velho orgulho nacional legado pelos muçulmanos.

Alentejo medieval - Quilometrosquecontam

O Castelo de Serpa é quase uma visita obrigada, mas queremos também mencionar o Museu do Relógio, sem imitador possível no nosso país: apenas quatro há parecidos fora de Portugal. O seu espólio está composto por quase 2400 relógios mecânicos, sendo os mais antigos de 1630. Encontra-se no Convento do Mosteirinho, dentro da vila, um edifício do século XVI enquadrado na zona histórica.

Abandonamos Serpa pela estrado ao vale do Vargo, com a igreja e convento de São Francisco ao longe, coma a sua arquitetura tardo-medieval manuelina e mudéjar.  A caminho de Beja seguimos a N-260 e atravessamos o viaduto sobre o Guadiana a 20 km da barragem da Alqueva. Sulcamos agora campos de trigo e papoulas até chegarmos a Beja.

Aqui há muitas e muito interessantes lojas de artesania em que adquirir produtos regionais e doçaria. Na capital do Baixo Alentejo podemos contemplar uma Torre da Homenagem de grande beleza e valor histórico no castelo do século XIII, e um lote de igrejas posteriores que dão testemunho da longa história local, a Catedral entre elas. No alto desta colina foi assinada antigamente a Pax Julia, o acordo de paz entre os lusitanos e o Imperador romano Júlio César: o primeiro documento internacional com presença portuguesa!

Alentejo Serpa - Quilometrosquecontam

Continuamos viagem pela estrada N-121 atravessando o coração da região entre aldeias de ar antigo até a Ferreira do Alentejo, surgida do século XVII como uma miragem. Aqui continuamos pela N-2 até a Ervidel, mais uma vila detida num recanto do tempo passado. As ermidas do século XVIII convivem com os típicos moinhos de vento da região, e as adegas tradicionais. Ainda, o lagar de azeite traz-nos a memória como esta atividade insubstituível do Alentejo constituía não muito tempo atrás a base da economia da região.

Não podemos acabar esta rota sem mergulhar mais um bocadinho no passado romano da zona. Voltando a Beja, tomaremos a estrada N-18 em paralelo à barragem de Roxo e em Penedo Gordo continuamos para a esquerda. Veremos então as ruínas romanas de Pisões. A construção, de estilo helenístico, está situada na Herdade da Almagrassa, e foram descobertas em 1967 de modo completamente acidental durante uns trabalhos agrícolas. A vila esteve ocupada até o século IV e inclui mais de quarenta divisões onde funcionaram em época romana termas e piscinas. Os mosaicos são realmente importantes para os apaixonados pela história, com peças de grande qualidade com desenhos geométricos e naturalistas. Um tesouro histórico muito pouco conhecido no nosso país.

Good Year Kilometros que cuentan