Olivença: aqui é Ibéria

16 Outubro | 2015 | Goodyear

Um fim de semana a visitar os sinais da presença portuguesa em Olivenza/Olivença


Fomos à procura de Portugal… em Espanha. Um fim de semana em Olivença deu-nos a entender o que é isso de se ser “ibérico” e porque é que temos muito mais em comum com os nossos vizinhos do que aquilo que normalmente admitimos. Visite os sinais da presença portuguesa por estas terras e vai entender porque é que, mesmo depois da fronteira, em Olivença ainda nos sentimos em casa.

Saídos com destino a Olivença, optámos pelo caminho menos habitual de forma a evitar Badajoz, e saímos de Portugal por Mourão, deliciosa vila que bem merece uma paragem para desentorpecer as pernas. Parte da zona de influência do Alqueva e Guadiana, aqui as terras são singularmente férteis e verdejantes e a condução é sempre feita através das oliveiras e outras árvores de fruto. Feita ao final da tarde, a longa recta que nos levará até Villa Nueva del Fresno, é um verdadeiro “momento zen” para qualquer condutor.

Olivenca - Quilometrosquecontam

 

Um fim de semana à procura de Portugal… em Espanha

Chegados às portas de Olivença, é impossível não reconhecer a semelhança com as de Estremoz, um primeiro sinal do passado que temos em comum com os habitantes desta terra. Muçulmanos, portugueses e espanhóis já reclamaram a cidade como sua e há quem esteja convencido que a situação não está resolvida. Diz-se que nos anos 40 ainda se falava aqui o português, hábito que desapareceu até ao final do séc. XX.

Mas se há uma barreira na língua, é o povo que se encarrega de a derrubar. Aqui sente-se na plenitude o que é ser “raiano”. Ao chegarmos esfomeados e sedentos, somos recebidos com um magnífico presunto e tomate, acompanhado por uma “caña”, no “Castillejos”. O motor do carro ainda não tinha arrefecido e já estávamos a descobrir que o cozinheiro que nos servia era português. Aqui a fronteira é muito mais diluída do que poderíamos pensar, e este é um povo mais do que habituado à multi-culturalidade, a uma identidade que não renega o passado, mas que se preocupa com as coisas práticas, como “onde é que vamos comer a seguir?”

E como se come bem aqui! A sopa de cação é prato que qualquer português de costela alentejana ou algarvia conhece bem e aqui é confecionado “como manda a lei”. O pavo en pepitoria (uma espécie de fricassé) e as migas de peixe do rio foram separados à nascença dos seus irmãos portugueses, mesmo que tenham um “sotaque” muito prório. E também na doçaria, onde os nossos vizinhos têm uma tradição mais inventiva do que a nossa, encontramos velhos conhecidos como os ovos moles, jesuítas, cavacas ou queijadas, denotando bem a história conventual. Misturando isto tudo com as influências de outras zonas de Espanha, no centro de Olivenza é recomendada a visita à esplanada da “Maila”, onde a carne servida é de elevadíssima qualidade. Aqui perto, com um vista deliciosa sobre o Guadiana e, do lado português, a Juromenha, impõe-se também um salto até ao restaurante do Puerto Deportivo do Embarcadero de Villarreal.



O “chão português”

Se a segunda metade do século passado serviu para afirmar a presença espanhola, a verdade é que esta cidade, ao contrário de povoações semelhantes no lado português, está bastante bem preservada e guarda assim, bem patentes, os sinais do seu passado. Na zona do centro histórico, um pelourinho ostenta ainda a esfera armilar, signo que se repete ilustrado na calçada portuguesa em perfeito estado de conservação.

A Igreja de Santa Maria Madalena é considerada um dos recantos mais pitorescos de Espanha, motivo que nos deverá encher também de orgulho pois esta catedral é um muito digno representante do estilo manuelino, a versão portuguesa do gótico. Encontramos aqui os principais sinais do género, as falsas ameias, os pináculos e as gárgulas, assim como uma portada do mesmo autor da porta do Mosteiro dos Jerónimos.

Aqui perto, na zona Dionisina (em referência a D. Dinis), há mais Portugal para encontrarmos: no museu etnográfico, no Palácio dos Duques de Cadaval (actual Câmara Municipal) no Convento de São Francisco ou no de São João de Deus. E as pequenas coisas: como os nomes originais das ruas ou os azulejos das Caldas da Rainha que ilustram a Paixão de Cristo.

O tempo encarregar-se-á de fazer esquecer que alguma vez houve uma disputa sobre estas terras. Mas os “oliventinos”, como todos os povos raianos, irão manter-se fiéis a si próprios: é nesta mistura e multi-culturalidade que ganham a sua identidade, da qual se orgulham e não esquecem. Ao regressarmos a casa, a verdade é que deixámos lá uma pontinha de inveja…

Good Year Kilometros que cuentan