Portugal gosta da sua comida

26 Novembro | 2015 | Goodyear

Os criadores nacionais viram-se para a cultura popular, música, dança e culinária, em busca da identidade de Portugal

Antes da gastronomia, Tiago Pereira já se dedicava há bastante tempo à recolha em áudio e vídeo de alguns dos momentos mais autênticos da cultura popular. Pelas estradas de Portugal, o músico/realizador ia à procura dos segredos que um povo não pode esquecer e, debaixo do nome de guerra “A música portuguesa a gostar dela própria”, criou um extenso arquivo onde celebra, de norte a sul, a variedade da música popular.

Domingos Fernandes – “Meninos do Huambo” from MPAGDP on Vimeo.

À mesa com o povo

Mas nenhuma festa popular ficaria completa sem comida e, depois de ser tantas vezes convidado a ter à mesa as iguarias das regiões por onde ia passando, Tiago foi congeminando a hipótese de dedicar atenção semelhante aos nossos pratos populares. Para o auxiliar, além do apoio do Esporão, conta sempre com os seus actores e cenários preferidos: as “avózinhas” e as paisagens do Portugal rural. O nome escolhido não podia ser outro, “A Comida Portuguesa a Gostar dela Própria”, e já está disponível para todos conhecermos no Youtube.

Cocinha - Quilometrosquecontam

A cozinha portuguesa será presenteada durante os próximos 15 meses com um episódio por mês, no qual um chef é convidado a mostrar uma receita, acompanhado por um conjunto de vídeos extra, com habitantes das mais diversas regiões que apresentam pratos da sua zona. Muitas destas receitas subsistem apenas na tradição oral e é sempre bem vinda qualquer iniciativa que as registe para a posteridade. Quando o cuidado na apresentação e o resultado final chegam a este nível, deixamos de falar em “simples registo etnográfico”.

Do litão ao javali, de Monção a Olhão

O conselheiro gastronómico do projecto é o Chef André Magalhães (professor e responsável pelo menú do Taberna da Rua das Flores) e dá o exemplo no primeiro episódio com uma receita de cataplana de litão (“o bacalhau dos pobres”) apresentada por Tóni, pescador da Ria Formosa, que relata o percurso  que este “primo” do tubarão faz até chegar à mesa, enquanto o arranja com a mestria que só a experiência concede. O apontamento final de algas verdes e vermelhas é o toque de inovação e modernidade sediada na tradição.

Os restantes vídeos já disponíveis vão desde Monção, a Olhão, passando pela Azambuja, e trazem-nos receitas de sopa de ossos de suã ou javali guisado, sempre da boca das gentes que aprenderam estas artes com os seus pais, e esses com os antes deles. Em Dezembro será a vez de José Júlio Vintém, do restaurante alentejano Tomba Lobos, a mostrar-nos como se faz um borrego.

 

Good Year Kilometros que cuentan