Cançoes de Santa: a alegre melancolia do Natal

15 Dezembro | 2015 | Goodyear

Uma playlist de grandes temas pop para melancolia natalícia. Canções que nos trazem a alegria e melancolia do Natal

Playlists de Natal há muitas, mas esta pode ser uma quadra complicada para quem não gosta de coros monásticos ou canções infantis. A verdade é que esta altura do ano é um verdadeiro corropio de emoções, uma confusão de saudade e felicidade capazes de deixar uma lágrima no olho de qualquer coração empedernido.  A falta que nos faz quem não está a nosso lado, a presença contagiante das crianças que dão significado ao Natal, as recordações de quando também éramos assim, deixam em nós sentimentos que não sabemos transmitir por palavras. É a música que nos ajuda em alturas como esta e não faltam exemplos de grandes canções que nos trazem a alegre melancolia do Natal.

“What Christmas Means to Me”, Stevie Wonder

O baixo e os sinos introdutórios dão o tom: é uma época de festa e os sinais estão por todo o lado, no azevinho, nos cânticos e nas caras sorridentes, “tudo isto e muito mais”, canta Stevie Wonder. Confessamos, contudo, que é na forma viciante como este tema nos faz abanar o corpo e bater palmas a compasso que está o segredo. Daqui até ao Natal há ainda muito tempo para dançarmos.

“Santa claus go straight to the ghetto”, James Brown

James Brown não encaixa na etiqueta da melancolia, mas é top ten quando se fala de groove contagiante. Este pedido cheio de “soul” para que São Nicolau passe pelo ghetto é uma referência directa à infância do “padrinho do funk”, à altura em que era ainda muito pobre e não podia comemorar o Natal. Se dependesse de Brown, nenhuma criança do ghetto iria passar pelo mesmo. Reparem especialmente na secção de metais que dá esqueleto ao tema: podia ser a própria definição de clássico.

“Merry Christmas (I Don’t Want To Fight Tonight)”, The Ramones

Os punks também comemoram o Natal? Parece que sim e até aproveitam a época para fazerem as pazes com as namoradas. E este é um hino à beleza das coisas simples: os acordes que já ouvimos os Ramones tocar tantas vezes e a crueza de “eu gosto de ti, tu gostas de mim e é assim que tem que ser”. Para quê complicar?

“Must Be Santa”, Bob Dylan

Bob Dylan encarnou o espírito polka, o toque da folk europeia, e convidou uma série de amigos para, em espírito de festa total, reinterpretar o original de 1960 de Mitch Miller. O resultado é folia, com direito a sátira pelo meio (Dylan cita uma lista de presidentes dos EUA que poderiam ser renas do Pai Natal), e é bem representado por um divertido vídeo (https://vimeo.com/16822599) que mostra que o cantor guarda ainda o sentido de humor.

Playlist Santa - Quilometrosquecontam

“Santa Baby” , Eartha Kitt

Vamos agora até 1953 e à voz de uma descendente de escravos que nasceu numa plantação de algodão, enquadramento que ajuda a contextualizar o brilhantismo de Eartha. “Santa Baby” foi alvo de versões de gente como Kylie Minogue ou Madonna mas, perdoem-nos o purismo, nenhuma chega ao nível do original. O timbre de Eartha, sempre natural e honesto, é fogo  que aquece qualquer inverno.

“Saw Mommy Kissing Santa Claus”, The Ronettes

O tema é definitvamente insólito e, no mundo de hoje, sujeito a muitas interpretações: uma criança apanha a mãe a beijar o Pai Natal às escondidas… Nos comandos da mesa de mistura estava o lendário Phil Spector a apurar cada vez mais a sua técnica do “wall of sound” que teria impacto em toda a música que se seguiria, e o resultado é puro “ouro pop”. As Ronettes, como tantos outros grupos vocais da altura, não duraram muito mais do que um disco de originais e uma tourné, mas haveriam de influenciar gente como os Beach Boys ou Amy Winehouse.

“The Christmas Song”, The Raveonettes

 

Com as raízes bem sediadas no eixo que nos leva do Doo Wop até aos Everly Brothers, os Raveonettes são uma banda dinamarquesa que mantém a a tradição da boa pop nórdica. É uma canção sobre como a companhia ajuda a aquecer o coração nesta quadra e um hino para eternos solitários que, pelo menos uma vez por ano, precisam de quem tome conta deles.

“Sleigh Ride”, She & Him

Saltamos agora para outro duo que também encontra entre as referências retro a sua principal inspiração. M. Ward & Zooey Deschanel já tinham carreiras mais do que firmadas quando se juntaram para She & Him, mas não foi por causa disso que deixaram os seus créditos por mãos alheias. Se qualquer um dos discos da dupla é um doce para os ouvidos, a sua edição de clássicos de Natal é uma filhós que não nos enjoamos de apreciar pelo menos uma vez por ano.

“Come on! Let´s boogey to the elf dance”, Sufjan Stevens

 

 Como tudo em que Sufjan se mete, “Songs of Christmas” é um “tour de force” que ao longo de cinco discos salta entre a apoteose e a escuridão, o misto de alegria e melancolia que é o tema que dá forma a esta playlist. “Come on, Lets Boogie” diz-nos “levanta-te do chão e grita, há muitos motivos para gritar. O Pai Natal está a chegar”… e o que é isso senão um apelo directo à felicidade?

“Have Yourself a Merry Little Christmas”, Cat Power

Véspera de Natal, fim de noite. Toda a família já se foi deitar e ficámos ainda no sofá a observar as brasas que começam a esfriar na lareira, embalados por um brandy. A voz quente de Cat Power diz-nos que os problemas ficaram para trás e que estamos de regresso ao passado e à companhia de quem nos é querido. Emocional e belíssima, esta é também uma forma de desejarmos a quem está desse lado:  tenham um feliz Natal!

 

Good Year Kilometros que cuentan