Carnaval em Trás-os-Montes com os Caretos de Podence

21 Fevereiro | 2020 | Goodyear

Declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO no final do ano passado, descubra esta tradição secular

Se quer, este ano, passar um Carnaval diferente e fugir aos desfies de escolas de samba à portuguesa, a nossa sugestão vai para uma escapadinha até Trás-os-Montes, mais exatamente até à aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros.

É lá que vai encontrar o Entrudo Chocalheiro que, desde final do ano passado, tem a honra de de fazer parte da lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, juntando-se ao Fado, ao Cante Alentejano, à Dieta Mediterrânica, à Falcoaria e aos chamados “Bonecos de Estremoz”. As “Festas de Inverno Carnaval de Podence”, como são chamadas, foram a única candidatura selecionada pelo Governo português para representar Portugal em dezembro último na XIV reunião do Comité Internacional da UNESCO, o organismo das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação.

Os Caretos de Podence são reconhecidos pelos seus fatos coloridos e farfalhudos, máscaras de ferro ou lata, chocalhos à cintura e um pau para amparar. Em toda a região de Trás-os-Montes há Caretos, protagonistas das chamadas Festas de Inverno, que acontecem entre o Natal e o Carnaval, mas os de Podence distinguem-se dos restantes pelo chocalho, daí o nome da festa ser “Entrudo Chocalheiro”. Costuma ser apontado como “o mais genuíno carnaval português”, sem samba, ao ritmo da verdadeira  tradição.

O Entrudo Chocalheiro festeja o encerramento do mortiço Inverno (de carácter pagão)  e o começo da sobriedade da Quaresma (de carácter cristão). Em ambos os casos, há uma ligação imediata com a Primavera e a sua chegada às povoações, que lhes traz o período das sementeiras de volta.

Tradição que se perde no tempo

Esta forma de celebrar o Carnaval vem do tempo dos romanos, embora alguns autores reportem as festividades ao período do Neolítico. Certo é que os rituais estavam ligados  à entrada na Primavera e à necessidade das sociedades agrícolas terem boas colheitas. A tradição esteve em risco de se perder nos anos 1960, por causa da guerra colonial e da imigração, que afastaram os homens desta aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros. Vinte anos depois, a tradição foi recuperada pela Associação Caretos de Podence e é hoje uma atracção turística, juntando cerca de 40 mil pessoas na pequena aldeia ao longo dos quatro dias em que decorre o Entrudo Chocalheiro. Este ano, o Entrudo Chocalheiro realiza-se entre 22 e 25 de fevereiro.

Tradicionalmente, no Domingo Gordo e na 3ª Feira de Carnaval, os rapazes da aldeia encarnam as misteriosas personagens e cheios de energia, que acreditam ser transmitida pela máscara, correm pela aldeia aos saltos e aos gritos, perturbando a tranquilidade. Um dos principais motivos das correrias é encontrar raparigas para dançar e para as “chocalhar”. São seguidos por rapazes mais novos que imitam os caretos mais velhos aprender e assegurar a continuidade da tradição, a quem chamam “facanitos”.

Entre os momentos mais importantes do Carnaval de Podence, destacam-se os casamentos a fingir, no Domingo Gordo, um momento de humor e sem hipótese de reclamação por parte dos escolhidos e, na 3ª feira de Carnaval, o desfile e a cerimónia da Queima do Entrudo, que anuncia o final da festa.

Já existe em Podence a Casa do Careto, sede da associação responsável pela dinamização do Entrudo Chocalheiro, mas o presidente do Município de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues, defendeu aquando da atribuição da distinção, que “uma tradição património da UNESCO merece algo mais”.

Faça-se assim à estrada e percorra, em segurança, os quilómetros necessários para desfrutar do que é o Carnaval mais genuíno de Portugal.

 

Good Year Kilometros que cuentan