Minho e Trás-os-montes: sem polvo não há Natal

15 Dezembro | 2016 | Goodyear

É Natal e o bacalhau domina todo o país? Todo não! A Goodyear foi descobrir que a tradição do polvo na ceia tem muitos resistentes e cada vez mais adeptos.

Em Portugal, o polvo na mesa de Natal é uma tradição insólita que, todos os anos, nos traz os cheiros do passado e de como os nossos bisavós lidavam com o afastamento do mar e com as regras da Igreja Católica. Mas hoje, seja em Trás-os-montes, no Minho ou nos Açores, já poucos se recordam dos motivos para termos o polvo à mesa na noite de 24 de Dezembro e ninguém se preocupa com a raiz dessa tradição ancestral. A iguaria, essa fica e, com as famílias espalhadas por todo o país, já se encontra um pouco por todo o lado. Mesmo que continue a ser uma tradição principalmente nortenha, marca lugar de Lisboa a Faro e a Goodyear conta-lhe 4 curiosidades sobre o polvo à mesa dos portugueses.

1. O polvo tem também uma justificação religiosa

O polvo não chega às mesas dos transmontanos, minhotos ou açorianos por simples capricho: é o resultado de muitas gerações de fervor religioso e de uma altura em que era mais difícil fazer fluir os bens comerciais do litoral para o interior. As regras da Igreja Católica impunham refeições sem carne durante este período, numa limitação que só acabava na ceia de Natal, depois da Missa do Galo.

Mas até o peixe poderia ser complicado de adquirir no princípio do inverno e, por isso, os alimentos secos e salgados para conservação eram bastante comuns. Os dois mais clássicos exemplos? O Bacalhau e o Polvo, claro. Ao jejum sucedia-se a ida à igreja à meia-noite e o polvo aparecia em duas situações: como o prato do jantar antes da missa ou, noutras localidades, o segundo prato da ceia. Era um sinal de riqueza quando uma família podia dar-se ao luxo de apresentar esse segundo prato.

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2. É uma visita que chega do outro lado da fronteira

A opção pelo polvo em terras raianas tem ainda um último argumento: é uma visita que chega do norte pela mão dos nossos irmãos galegos. Há várias gerações que o melhor polvo foi sempre comprado na Galiza e gerou até um pequeno contrabando. Os locais iam escondidos pelos montes, a fugir da Guarda que, também ela, não se importava nada de os “apreender” quando regressavam a terras portuguesas. Hoje em dia é fácil passar a fronteira e as famílias portuguesas não se fazem rogadas: as batatinhas e a couve do Minho e Trás-Os-Montes batem-se com as melhores do mundo, mas o polvo ainda tem que ser galego. Ainda é assim em Montalegre, na região transmontana do Gerês, mas também mais a sul, quando começamos a chegar ao Alto Douro. Infelizmente ainda não importámos também as “pulperias” dos nossos vizinhos.

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3. Há tantas receitas de polvo como de bacalhau

Nem todo o polvo nasce igual e, tal como o “primo da Noruega”, conta com um número enorme de diferentes confecções que lhe dão a riqueza e variedade necessária para ter lugar marcado na refeição mais rica do ano. A tarde de muitas famílias é passada nos preparativos e, enquanto alguém frita as rabanadas ou filhoses, outro alguém começa por lavar o bicho.

O polvo que vai chegar à mesa esta noite foi cuidadosamente escolhido por quem sabe ler os sinais: o povo chama “olhos” às ventosas e diz que aqueles que têm os olhos grandes “mingam menos” e o resultado é mais macio depois da cozedura. É toda uma arte que nem nos atrevemos a fingir perceber. No fim do ritual irá aparecer à mesa cozido, guisado, em arroz, assado no forno ou grelhado à lagareiro, com batatas, couve portuguesa e pão frito.

4. A sua melhor companhia é o vinho aquecido

Ramalho Ortigão comentou que “Há só um banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente:é a ceia da véspera de Natal nas nossas terras do Minho”. Mas, perdoe-nos o escritor, Trás-os-Montes não tem menos fulgor, é só mais discreto. O inverno transmontano não tem o poder amenizador da costa atlântica minhota e é assim mais recatado, mas a mesa não tem menos riqueza nesta altura. Para aconchegar a alma, o vinho aquecido à lareira com mel e um pau de canela é o elixir milagroso que alegra a noite nortenha.

Se o polvo faz parte das tradições da sua família, de certeza que já está a salivar enquanto pensa na consoada. Se, pelo contrário, conhece só o bacalhau e o cabrito, tente uma inovação este ano. Para além da cozedura, que precisa de alguma arte, cozinhar polvo é muito simples e irá encontrar muitas receitas para o ajudar. Boas festas e bom apetite!

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