Há sempre qualquer coisa de estranha na história oficial. Dados que não gostamos, datas que achamos pouco precisas e momentos que nos fazem suspeitar todo o tipo de conspirações. Quando as nossas inclinações naturais para a desconfiança se misturam com personagens fuscos, dos quais poucas coisas com certeza sabemos, temos o terreno propício para a sombra da suspeita aparecer. Será que isto foi mesmo como nos contaram? Ou há alguma outra coisa por trás desta história?

Cristóvão Colombo é um daqueles homens da história propícios para uma mescla de lenda e realidade. O que dele sabemos é pouco, e muito limitado no tempo: entre 1492 e 1506, data da sua morte. Um navegante que após tentar embarcar João II no seu projecto de circum-navegação, testou a sua sorte com fortuna com os reis castelhanos. Aquela viagem viria descobrir América em 1492, continente mítico que na altura confundiu com a Índia que Pero Álvares Cabral atingiria em 1500, 8 anos depois, com passagem pelo Brasil.

Com certeza, o local de nascimento do navegante ao serviço de Castela continua a ser, mais de 500 anos depois, uma incógnita. Pois costuma ser reconhecido que nasceu em Génova, como ele mesmo  se atribuía. Mas a questão não fica resolvida de modo assim tão simples. Porque outorga uns nomes determinados a certos pontos dos seus descobrimentos? Porque a ilha de Cuba recebe o nome da ilha de Cuba? Será que há alguma outra Cuba no mundo… Pois é: concretamente, no Alentejo.

Com esta premissa partia o filme Cristóvão Colombo: o Enigma, do sempre genial Manoel de Oliveira. O director, que participava também como actor na produção, contava-nos a história de um emigrante português nos EUA que depois de retornar ao país fica obsessionado com a possibilidade de Cristóvão Colombo ter nascido no Alentejo. Levado por esta fome de saber, percorre vários locais do globo entre os que se encontra a ilha de Porto Santo, onde o navegante morou durante algum tempo.

A hipótese do Colombo português não é considerada uma extravagância no concelho: ao contrário, está muito viva. Uma estátua lembra esta suposta origem em frente ao edifício do Tribunal da Comarca, no centro da Vila. Uma homenagem de bronze ao possível filho mais ilustre do lugar. A lenda continua viva graças ao Centro Cristóvão Colon, surgido de uma parceria entre o município e a Associação Cristóvao Colon: considerada um espaço para o descobrimento, convida os visitantes a descobrir por si próprios a origem autêntica do lendário navegante através da exposição. Desvendam perante os olhos do turista imagens e palavras que nos transportam para a época e mergulham no mito luso, nascido neste recanto alentejano. Mapas, livros e telas para descobrir a verdade com vontade de aventura.

Não esqueça, de passagem, visitar o resto de uma formosa vila histórica do sul, com as suas tradicionais rua da Mouraria e rua do Carmo, as partes mais antigas da vila, que ainda guardam uma imagem que talvez Colombo tenha gravado também nas suas retinas antes de sulcar o mar ignoto. E, porque toda viagem é melhor com uma lembrança no paladar, delicie-se com a gastronomia local: aqueles pratos enriquecidos graças às poderosas ervas aromáticas, as sopas de tomate e de cação com alho e azeite ou a óptima carne de porco com pão alentejano. Iguarias que aguardam por si em qualquer restaurante típico da vila, onde acompanhar a homenagem ao navegante com algum dos excelentes vinhos locais.

No filme somos também testemunhas da visita do protagonista a Porto Santo, onde teve casa Colombo. A primeira coisa que tem de saber é que Porto Santo não é mesmo uma ilha, mas uma comprida praia de areia com um bocadinho de ilha atrás. Nove quilómetros borrifados levemente de hotéis e restaurantes num contorno paradisíaco delimitado pelo oceano profundamente azul. Na Vila Baleira encontrou o seu lar o navegante e ainda conseguimos imaginar aqueles pores-de-sol com o céu alaranjado, incendiado mesmo sobre o mar pelo grasno das gaivotas.

Mas não é apenas uma paisagem linda que iremos encontrar aqui: são muitas as actividades disponíveis neste destino: golfe, mergulho, pesca desportiva… E um interior bravio onde os caminhantes podem emular as rotas daquele velho genovês… desculpe, português!