Comboio Histórico volta a circular na margem do Douro

15 Julho | 2021 | Goodyear

Volta a estar ativo durante todo o verão, até outubro, o famoso Comboio Histórico do Douro. Conheça a viagem antes de comprar o bilhete!

A viagem pela Linha do Douro, entre a Régua e o Tua, é um percurso inesquecível que permite apreciar de um ângulo original as belas paisagens do Douro Vinhateiro, Património Mundial da UNESCO. O Comboio Histórico do Douro vai estar a circular até Outubro e as margens do rio são um agradável abrigo para os meses de verão. Venha daí, conhecer o Douro de comboio.

A Linha do Douro foi uma das obras-primas da engenharia ferroviária portuguesa do século XIX, fazendo chegar o comboio – e com ele o progresso – a regiões que até então estavam isoladas do resto do mundo e que tinham como únicas ligações, ou estradas péssimas, ou a periclitante navegação pelo Douro. Começou a ser construída em 1875 e, três anos depois, já havia serviço até ao Juncal, nos arredores de Marco de Canaveses. Em 1879, o primeiro comboio chegava à Régua e, um ano mais tarde, ao Pinhão. Mais oito anos e ficava operacional a linha até Barca d’Alva e, com ela, uma das primeiras ligações ferroviárias internacionais, via Salamanca, atualmente inexistente.

Todos a bordo!

O Comboio Histórico percorre o troço compreendido entre a Régua e o Tua, com retorno à estação de origem. É um dos mais bonitos trajetos da Linha do Douro, podendo ser vivido e sentido de uma forma especial a bordo de uma composição histórica, seja pelo ambiente de época, seja pelo andamento tranquilo que permite apreciar de forma calma todos os pormenores da paisagem.

No cais da estação da Régua pode ver algum material circulante antigo, incluindo dois quadriciclos de inspeção de via e uma locomotiva a vapor. Quando o comboio se põe em marcha começa a ter-se alguma panorâmica do Douro do lado direito. Ficam bem em evidência as três pontes da Régua: o alto viaduto de betão da A24, a ponte pedonal de vários arcos e uma sólida ponte de alvenaria de pedra. Estas duas últimas pontes têm uma história curiosa: a ponte pedonal era uma antiga ponte de metal onde passava a Estrada Nacional, enquanto a de pedra foi feita para assentar os carris de uma linha de via estreita que, entre os anos 20 e 30 do século passado, começou a ser construída, com o objetivo de ligar a Régua a Lamego e, eventualmente, a Viseu. A Grande Depressão de 1929 e o repensar da política de obras públicas levaram a que este troço fosse abandonado.Como a nova travessia do Douro era de primeira qualidade, a ponte metálica rodoviária foi abandonada.

A caminho do Pinhão

Logo após a Régua, passa-se um primeiro túnel, construído em 1968, devido às alterações do nível das águas resultantes da construção da barragem de Bagaúste. Olhando para o Douro, poderá apreciar o espetáculo curioso dos barcos a transporem o desnível através das eclusas da barragem, sistema de comportas onde, ao fim de alguns minutos, se faz o nivelamento do caudal, funcionando como verdadeiros elevadores a água. O troço até ao Pinhão vai corresponder a uma longa reta feita pela margem direita do Douro e que permite apreciar os socalcos vinhateiros e as quintas produtoras na margem contrária.

A pequena estação de Covelinhas é uma das poucas existentes pelo caminho. Como o nível das águas é muito alto devido à barragem de Bagaúste, distinguem-se uma série de pequenas baías, correspondentes à confluência de diversas linhas de água com o Douro. Nalguns casos há zonas de lazer com embarcadouros de recreio.

À chegada, o comboio cruza o rio Pinhão, afluente do Douro, antes de atravessar a povoação. O Pinhão, a que Jaime Cortesão chamou «o miocárdio do Douro», desenvolveu-se em torno do comércio do Vinho do Porto e da via-férrea: quando o comboio aqui chegou em 1880, não moravam aqui mais de três centenas de pessoas.

Muitos entrepostos e armazéns vinícolas aqui foram sendo construídos. Ainda na estação do Pinhão será feita uma visita à Wine House, um espaço onde pode encontrar uma grande variedade de Vinhos do Douro, da Casa Ferreirinha, produtora do famoso Barca Velha, Vinhos do Porto da Ferreira, Offley e Sandeman. O espaço inclui uma loja para degustação e venda de produtos regionais como chocolates, queijos e conservas. Entre vinhos de qualidade e produtos gourmet, o mais difícil vai ser resistir.

No rio, encontramos o coração do vinho

A própria estação ferroviária do Pinhão impõe-se como atrativo ímpar. Além de florida e bem arranjada, está decorada com um dos mais belos conjuntos de azulejos ferroviários de Portugal, da autoria de J. Oliveira, datados de 1937, produzidos na Fábrica Aleluia, de Aveiro. Aqui se retratam diversos aspetos da faina vinhateira, desde a vindima ao transporte e carregamento dos pipos nos barcos rabelos.

Se estas representações, sem prejuízo da parte estética, têm interesse etnográfico, por representarem sistemas de trabalho já ultrapassados pelo progresso tecnológico, têm ainda outra virtude: ilustram paisagens vinhateiras desaparecidas, como é o caso do Cachão da Valeira e da ponte da Ferradosa, ambos submersos pela construção da barragem da Valeira, em 1976.
Retomada a viagem, sempre com o Douro do lado direito, verifica-se que, devido à distância percorrida desde o paredão da barragem, o nível das águas do Douro tende a regressar ao que sempre foi, começando a avistar-se ilhotas rochosas no meio do rio, algumas cobertas de vegetação. Isso não impede que os barcos dos cruzeiros turísticos sejam uma presença quase constante. A aproximação à confluência com o Rio Tua traz consigo uma mudança na paisagem, aqui mais agreste e rochosa.

A chegada à estação permite, aliás, avaliar a importância de outrora deste nó ferroviário, que era também o início da linha de via estreia entre o Tua e Bragança, dada a dimensão dos cais, da gare, dos armazéns e da quantidade de linhas.

Aqui chegados, é tempo de fazer uma pausa e contemplar o Douro e as suas margens, à espera de poder refazer a viagem em sentido contrário, com novas panorâmicas sobre esta maravilha da paisagem humanizada que é o vale do Douro, agora apreciado de novos ângulos e iluminado por novos cambiantes da luz solar, uma vez que, entretanto, o dia avançou, projetando-se as primeiras sombras da tarde. Nesta pausa aproveite para tirar fotografias, para recordar este passeio pelo Douro sem pressa de voltar.

Good Year Kilometros que cuentan